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Arquitetos: junya ishigami + associates
- Área: 4110 m²
- Ano: 2020
O texto foi redigido pelo curador do projeto com referência às notas do arquiteto. Enquanto trabalhava na praça ao ar livre do ateliê KAIT do Kanagawa Institute of Technology (concluído no inverno de 2008), Junya Ishigami + Associates considerou duas características principais: versatilidade e Espaços semi-externos, e o que esses dois realmente representariam no desenvolvimento do projeto.
A versatilidade da praça foi, neste caso, considerada de um ponto de vista experiencial em vez de prático. Como o campus já contava com espaços multifuncionais, sem área de relaxamento, os usuários se beneficiariam de um espaço único sugerindo um programa mais ambíguo. Portanto, em vez de trabalhar com uma função específica em mente, o arquiteto concentrou-se na experiência versátil do espaço como uma exploração das formas de passar o tempo nele. “O processo de passagem do tempo passa a ser o objeto principal”.
A ideia de um espaço semi-externo surgiu como uma solução de projeto intermediária, uma vez que a paisagem construída existente e inalterada do campus era problemática. Esta última evidentemente carecia de diversidade natural, já que, proporcionava um ambiente artificial (edifícios escolares). Por isso, o arquiteto procurou reter apenas metade do ambiente existente e sublimar a outra metade com elementos arquitetônicos. Dado que o projeto está centrado na experiência, a intervenção foi concebida como um novo “exterior”. Isso foi alcançado por meio de técnicas de projeto arquitetônico específicas destinadas a criar este novo e complexo espaço.
A paisagem pode ser vivenciada de maneira diferente pelas pessoas, seja física ou mentalmente. O ambiente da praça foi concebido para ser “delicado, sem coibir os edifícios existentes”. A paisagem criada é destinada a que os usuários apreciem o lugar e passem um tempo prolongado olhando para os planos em expansão do solo e do céu que se encontram no final da grande superfície curva conduzindo, por sua vez, a visão para o mundo sem limites do outro lado do horizonte.
Após as primeiras considerações sobre o cenário inicial e o tratamento que receberia, os arquitetos decidiram construir na totalidade do terreno. A diferença de altura de 2 metros entre o nível do solo do campus e o nível do projeto foi então explorada para criar um novo térreo integrado ao terreno natural. Posteriormente, a estrutura principal foi concebida como um elemento de ferro flutuante sustentado apenas pelas quatro paredes e dobrando-se em uma superfície curva sem apoio interno. O solo também foi feito de modo côncavo para ecoar a curvatura da coberura. Ambos os planos se dobram e se estendem, se encontrando no final e criando o horizonte dentro do próprio edifício.
As 59 aberturas da cobertura criam um efeito divertido de filtragem de luz, imitando a forma como o sol brilha através das nuvens em um dia escuro. Assim, o espaço se transforma dependendo do tempo e do clima. Os dias chuvosos oferecem um cenário impressionante, pois o fluxo da chuva entra pelas aberturas não envidraçadas formando colunas de água e adicionando um elemento de som à experiência. “Assim, as mudanças naturais percebidas pelo corpo passam a ser o cenário arquitetônico”.
O grande edifício, que se estende por até 90 metros, exigiu muitas considerações específicas de engenharia estrutural. Uma das coisas levadas em consideração foi a alteração da altura do teto, uma diferença que pode chegar a 30cm devido à dilatação e contração térmica da chapa de ferro. Existem também 83 estacas e 54 âncoras no solo fixadas na enorme viga da fundação de concreto, com a inclinação do terreno a uma diferença de altura de 5m. A aparência resultante da estrutura se assemelha a uma ponte suspensa giratória. A escala humana também é levada em consideração, com pé-direito que varia em torno de 2,2 ~ 2,8m, enquanto a chapa de ferro da cobertura tem 12mm de espessura, conforme as dimensões do móvel. As nervuras são instaladas como anéis de compressão dentro de 3 metros da circunferência externa da placa de ferro do telhado, a fim de reduzir a carga de tensão exercida nas paredes. As últimas possuem 250 mm de espessura, padrão para construções regulares.
Quanto ao aproveitamento do material, o solo é coberto com asfalto permeável que é tratado com limpeza de alta pressão para a retirada total do óleo antes da pintura. A água da chuva pode então ser absorvida instantaneamente quando se infiltra e flui pelo volume da praça, mantendo o piso seco para que não pareça desagradável aos usuários que quiserem se sentar nele.
Uma conexão profunda entre as pessoas e a natureza construída é incentivada através da praça. O projeto sugere sentar no chão para manter uma ligação direta entre os usuários e o ambiente arquitetonicamente desenvolvido. O terreno torna-se um declive confortável em forma de colina, como uma enorme cama, permitindo que o corpo e o ambiente se fundam em um cenário. Quando vivenciados todos juntos, a inclinação, a luz, os sons das gotas de chuva e o horizonte construído, criam um lugar emblemático no campus. Um espaço que oferece um conforto natural ao guiar por experiências específicas da “exterioridade”.