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Arquitetos: Husos Architects
- Área: 54 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Impresiones Cotidianas, Luis Díaz Díaz
Descrição enviada pela equipe de projeto. Este empreendimento está inserido em uma urbanização adjacente a uma ZEPA (Zona de Proteção Especial para Aves), inserida numa zona rica em biodiversidade, ora ameaçada. Consiste em uma cabana sócio-bioclimática e multifuncional para um casal de migrantes e sua família extensa, além de outras arquiteturas de pequenos animais que operam em torno de um inseto que hoje é um agente determinante neste ecossistema: a lagarta processionária. Juntos, eles constituem um projeto de arquitetura e micropaisagismo, que busca testar outras formas de habitar este lugar, do ponto de vista do cuidado.
Arquiteturas humanas
A edificação principal da cabana é constituída por um pequeno volume pré-fabricado com onze peças de madeira de pinho de Soria, de cerca de 250km do local. Foi projetada para reduzir a energia incorporada em sua construção e vida útil. A sua configuração torna mais fácil abrigar os usos de uma casa muito maior, permitindo que duas pessoas possam teletrabalhar e acomodar confortavelmente os hóspedes. Esta expansão programática acontece através do repensar dos espaços da casa: o quarto é substituído por uma cápsula de dormir, o telhado é usado como sala de estar externa elevada e um quarto funciona como escritório transformável e polivalente.
O coração do interior é uma cozinha-sala de 4 metros de altura. Isto permite a exposição solar no inverno através de uma janela horizontal alta no lado sul, visto que o terreno está na face norte de uma colina. Na fachada oposta, encontra-se uma grande porta-janela e um terraço delimitado por uma rede têxtil que protege contra possíveis quedas e evita que as aves colidam com as janelas.
A sala-jardim exterior e elevada está equipada com uma rede, uma plataforma móvel e uma tela que serve de cinema de verão ou para videochamadas familiares. Apesar de exterior, este quarto oferece intimidade visto que é delimitado no seu perímetro por uma membrana porosa constituída por restos de madeira. As suas cores lilás e violeta recriam fragmentos imaginários de paisagens da América do Sul, de onde se origina esta espécie de árvore (Jacarandá) e a sua flor, assim como esta família, colocando a memória destas paisagens em diálogo com as de Madri. Esta membrana dá privacidade e, ao mesmo tempo, representa este lar não heteronormativo e transnacional.
Arquiteturas Sinantrópicas
A biodiversidade dessa floresta atualmente apresenta desequilíbrios importantes. Uma das ações prejudiciais é a pulverização que afeta as espécies-alvo e outras indiretamente. O uso de inseticidas contra a superpopulação de lagartas é aqui uma das medidas mais comuns e preocupantes. Uma alternativa à fumigação consiste em tratar o problema da superpopulação dessa espécie por meio de ações integrais de cuidado florestal, por exemplo, incluindo o controle biológico da lagarta, promovendo a biodiversidade e cuidando de seus predadores, sem tentar excluí-la do ecossistema da floresta e entendê-la como um habitante natural. A atual escassez de predadores tem a ver, entre outras coisas, com as práticas florestais atuais que não encorajam a presença de árvores maduras e grandes, ou troncos mortos em cujas cavidades muitos animais tendem a nidificar e encontrar refúgio.
Por isso, neste local, desenhamos uma micropaisagem de arquiteturas para diferentes espécies de pássaros e morcegos que necessitam de cavidades para viver e nidificar, muitas das quais se alimentam de lagartas. São adaptações aprendidas de outros que, embora ainda minoritárias, são muito importantes, realizadas por alguns vizinhos, associações de biólogos e outros ativistas ambientais, em locais próximos.
A cabana da sinantropia é a continuação de uma série de obras através nas quais se explora a capacidade da arquitetura de tecer relações alternativas com ambientes próximos e distantes; com os existentes, mas também com outros futuros imagináveis.