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Arquitetos: Alejandro D' Acosta
- Área: 102 m²
- Ano: 2017
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Fotografias:Onnis Luque
Descrição enviada pela equipe de projeto. O Vale de Guadalupe, na Baixa Califórnia, México, é a região de maior especulação imobiliária do estado, e a arquitetura, mesmo sendo temporária, tem a capacidade de dar respostas e aliviar com consciência esta inércia voraz do mercado.
A Casa Elías é, na verdade, a "antessala" de um projeto que está por vir. Uma habitação temporária com um programa simples: abrigar os proprietários e desenvolvedores do futuro projeto, uma vez que eles não são originalmente do estado. Mas acima de tudo cumpre uma função extra, como se fosse uma parte da encomenda que ninguém nunca pediu: relacionar intimamente e inevitavelmente os desenvolvedores com o terreno e seu contexto, ser mais do que uma casa, uma estação de observação e pesquisa da paisagem.
O ponto mais alto de uma das três colinas que compõem a área do projeto foi escolhido e uma estrutura elevada foi construída sobre estacas para dar uma visão mais ampla, além de deixar o terreno quase intacto para que a construção inicial não intervisse como um obstáculo em planos futuros.
Se tratando de uma casa temporária, era necessário pensar em um projeto que fizesse sentido a partir de sua funcionalidade, mas mais importante, a partir de seu contexto simbólico. Assim, a casa foi construída com uma antiga sala de aula da mesma origem que as casas móveis. Estruturas pré-fabricadas e montáveis. As salas de aula são compostas de duas seções equivalentes a uma casa móvel, que para serem transportadas têm que ser separadas em duas partes e depois remontadas no local. No caso do projeto, as seções não foram unidas paralelamente, mas em um ângulo de noventa graus, de modo que cada uma foi implantada em sua própria orientação, o que gerou um terraço de contemplação entre os dois corpos.
Pela natureza dos componentes, uma das faces de cada seção é uma alma aberta, não tem parede, pois foi projetada para se vincular a uma estrutura igual e gerar um espaço livre sem paredes internas. Estas faces sem paredes, expostas pela abertura angular, foram cobertas com um lote de portas e janelas de segunda utilização, também provenientes dos Estados Unidos. Algumas verticalmente, outras horizontalmente, como um quebra-cabeças que toma forma em justaposição, sem cortar nenhuma delas, mesmo quando geraram saliências no nível das salas. E aquelas antigas janelas e portas que se elevam acima do nível da cobertura são, por sua orientação, a sombra que torna o terraço habitável, o abrigo diante do sol que torna a arquitetura dinâmica.
Existem projetos que imitam o ambiente, que estudam sua natureza com suas formas, cores e texturas. Há projetos que se escondem, que falam da sensibilidade a partir da terra. Elevar-se absolutamente e tocar apenas o que é necessário no terreno é um ato de respeito à terra, mas também talvez uma leve agressão à paisagem, aos olhos de quem vê.
Há projetos, também, que se sustentam por seu significado, por sua estreita relação com fenômenos contextuais, seja a temporalidade migratória ou a estética em trânsito, vinda de outro país, que se dissolve naturalmente no panorama cotidiano.