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Arquitetos: Orgânica Arquitectura
- Área: 3500 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Do Mal o Menos
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Fabricantes: Euronit
Descrição enviada pela equipe de projeto. O atelier Orgânica, do arquiteto Paulo Serôdio Lopes, terminou no final de 2020 o projeto de recuperação e reabilitação dos edifícios da Oficina de Tratamento Químico, de Britagem e do Passadiço, das antigas Minas de urânio da Urgeiriça, em Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, em Portugal.
O projeto está integrado no Programa de Requalificação Ambiental da Antiga Área Industrial da Urgeiriça, promovido pela EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro SA, e visa a sua conversão num lugar de testemunho da anterior atividade mineira através de um centro interpretativo, de estudos e de investigação na área da radioatividade e da história das minas.
Depois do processo de descontaminação química e radiológica dos edifícios, coube ao atelier Orgânica reabilitar os edifícios da Oficina de Tratamento Químico, de Britagem e do Passadiço, a par do complexo de transformação e tratamento do urânio, recuando à época da sua construção e invenções; e, em simultâneo, operar a sua transformação funcional.
O projeto consistiu em destapar as paredes e coberturas das edificações industriais para revelar a estrutura em aço, a rede de infraestruturas, as máquinas, os engenhos e os mecanismos performativos que nelas habitam, deixando à mostra a sua organização. Seguidamente, foi desenvolvido um invólucro que funciona como uma armadura de proteção, que serve para filtrar a luz de fora, deixando, no entanto, respirar os interiores.
Este invólucro destaca-se pelos conjuntos de faixas de lamelas de cor preta que dobram a luz no exterior, enquanto a porção que passa os seus intervalos imprime aos espaços e aos objetos uma certa atmosfera de silêncio que desperta emoção.
Para Paulo Serôdio, “este projeto significou um encontro inesperado com memórias das antigas Minas de Urânio da Urgeiriça”. E acrescenta: “por intermédio da arquitetura, quero deixar um abraço de justa e sentida homenagem aos mineiros, que espero sirva para reparar a pesada herança dessa atividade que ali ainda se manifesta.”
As minas da Urgeiriça abriram atividade no início do século XX quando foram descobertos jazigos de urânio na região, sendo exploradas pelos ingleses para fornecer rádio para o laboratório de Marie Curie e depois, com participação do governo dos Estados Unidos, no programa das primeiras bombas nucleares.
Em 1929, foi constituída a Companhia Portuguesa de Radium, de capitais ingleses, que depois converte a exploração de rádio em urânio. A má gestão inglesa leva Salazar a apropriar-se da empresa e a criar a Junta de Energia Nuclear. Após o 25 de Abril, muda de nome para Empresa Nacional de Urânio. Nos anos 50, chegou a empregar cerca 1500 trabalhadores, mas no final da década de 80 já eram pouco mais de 350. As minas encerraram em 2004.
A Urgeiriça não era só uma mina. Em 1954, foi construído o Bairro dos Mineiros constituído por cerca de 140 habitações para alojar os seus funcionários. Muitas destas habitações foram construídas com materiais da própria mina, como barrotes de madeiras e pedras para as fundações cheios de minério ativo. Existe um património importante de conhecimento na área social sobre o sacrifício dos mineiros cujas condições de trabalho eram particularmente duras, com jornadas de nove horas consecutivas em péssimas condições de humidade, respirando poeiras e partículas radioativas. A atividade mineira teve neste local um brutal impacto na saúde dos mineiros e no tecido social envolvente que ainda perduram.
