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Arquitetos: BBOA - Balparda Brunel Oficina de Arquitectura
- Área: 12700 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Javier Agustín Rojas, Manuel Cucurell
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Fabricantes: ACCESANIGA, Aberturas Rosario, Aserradero Soldini, AutoDesk, Cañada Pinturerías, Chaos Group, Chies Hnos, Construshop de Marcelo Orso, Electricidad Serra, Femaco, La Yesera Rosarina, Pecam, Roberto Calzavara, Trimble Navigation
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto faz parte do Programa de Crédito Bicentenário Argentino (PRO.CRE.AR), para famílias que não possuem terras e desejam um lar para ocupação permanente. O terreno está localizado na cidade de Granadero Baigorria, província de Santa Fé, Argentina, em terras do Estado Nacional, que outrora pertenceram à Ferrovia. O projeto consiste no desenvolvimento urbano de uma porção da cidade de 3,3 hectares de superfície, delimitada pelas linhas ferroviárias de um lado, e por uma malha urbana do outro, emoldurada por áreas densamente arborizadas nos demais limites. A proposta contempla a resolução de um dos dois setores em que o imóvel, e inclui as modalidades PB + 2 níveis, PB + 3 níveis e PB + 7 níveis; totalizando 105 unidades habitacionais e 8 estabelecimentos comerciais.
O projeto aborda o problema do impessoal na habitação coletiva e da repetição infinita de células com características idênticas em contraposição à necessidade de identidade e reconhecimento do indivíduo. Portanto, diante do preconceito que caracteriza os conjuntos residenciais multifamiliares na repetição monótona, homogênea e impessoal, e entendendo que a percepção e vivência de um cenário arquitetônico diverso confere ao usuário um sentimento de pertencimento e apropriação de lugares, a proposta aborda essa necessidade iminente de singularidade e identidade própria.
Sob esta premissa, uma das condições básicas de projeto no início do processo consiste na busca de um sistema organizacional das diferentes células de habitação que admite variações entre elas, sem descuidar a busca de uma morfologia integral que engloba a totalidade. Assim, e sem abandonar a estratégia básica de implementação levada a cabo pela Administração Imobiliária do Estado, foi nela elaborada uma intervenção para o desenvolvimento de uma proposta urbana que permitisse aprofundar a hipótese do projeto proposto, com base no programa, nas orientações, os visuais, os espaços verdes, os espaços intersticiais, as circulações e as entradas.
O protótipo de nível PB + 2 e o protótipo de nível PB + 3 adotam estratégias de projeto semelhantes, separando os núcleos de circulação vertical e incorporando-os à massa do edifício como vazios. Desta forma, é possível evitar a formação de uma circulação linear comum que atravessa todas as células, permitindo que ambas as frentes das casas tenham contato direto com o exterior, otimizando a circulação em cada uma delas. Além disso, as células do vazio, no seu encontro com a cidade configuram entradas, permitindo uma ligação visual - funcional entre a rua e o pátio interno do conjunto e otimizando a relação do edifício com o entorno urbano imediato, permitindo maior controle por parte dos usuários no nível público dos pedestres. Esta operação volumétrica desenvolve-se a partir de uma tipologia duplex que atravessa o nível social com a planta dos dormitórios, obtendo um conjunto de terraços comuns que funcionam como distribuidores, perfurando a massa do edifício e gerando grandes entradas de luz para o pátio central.
O edifício PB + 7 níveis colabora na conformação do sistema urbano de quadra aberta, estando localizado em ambas as extremidades do terreno. Para melhorar as condições de acesso, é proposto em planta um deslocamento da peça original, tomando o centro da mesma o eixo de corte. Desta forma, melhora-se a relação entre o edifício e a rua, alargando o nível do passeio nas entradas tanto dos apartamentos como dos estabelecimentos comerciais. Por sua vez, esta ruptura permite que as unidades localizadas no centro da planta possuam orientação e vistas em duas de suas faces. Na fachada, repete-se a operação, melhorando a abertura dos espaços comerciais à rua, permitindo acomodar no nível superior as necessidades espaciais de caixas de elevadores e tanques de reserva sem que estas sejam identificadas na volumetria do edifício.
O sistema construtivo adotado consiste em uma estrutura independente de concreto armado e uma parede externa de tijolos. Este não é apenas o método mais usual e tradicional utilizado na região, mas também se identifica com as antigas estações ferroviárias em que o predomínio da alvenaria é um denominador comum, apelando para a sua nobreza e durabilidade construtiva. Para acentuar os vazios gerados pelos núcleos de circulação vertical, optou-se por conceder-lhes o mesmo acabamento que as instalações interiores, pintando-aos de branco, de forma a diferenciá-los do invólucro de tijolo. Sendo a escolha do sistema construtivo um fator intencional de projeto, procura-se uma correspondência entre as decisões do projeto e o referido método construtivo. Portanto, a estrutura proposta consiste em uma malha regular que resulta em protótipos modulados de forma eficiente, em busca de uma racionalidade construtiva que reduza o desperdício e permita o uso de tecnologias presentes no ambiente local.
Com base na resolução dos diferentes tipos de habitação e incluindo a aplicação das diferentes variáveis consideradas, obtém-se como resultado um fragmento da cidade em que os habitantes adquirem não só um ambiente urbano heterogêneo e dinâmico, mas também os proprietários das unidades gozam das mesmas condições de habitabilidade. A qualidade espacial é tratada da mesma forma em todos os protótipos, respeitando a superfície, as dimensões das instalações e a disposição das aberturas. Em suma, tenta expressar uma arquitetura que não só favorece os moradores, mas também considera o cidadão na oferta de cenários urbanos possíveis, entendendo o próprio projeto residencial como a construção de uma paisagem.