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Arquitetos: Mesa Atelier
- Área: 120 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Ana Isabel Santos
Descrição enviada pela equipe de projeto. O aumento de visitantes nas capitais do sul da Europa implica a maior pressão urbanística, especulação no imobiliário e consequente falta de habitação permanente para os locais que procuram fixar-se nas áreas centrais das cidades. Perante esta problemática, a proposta traduz uma possibilidade e uma reflexão: a confirmação do papel dos arquitetos nas questões sociais que tocam as cidades. Posto isto, o projeto trata a reconversão para espaço de habitação da galeria de arte, localizada num bairro histórico de Lisboa.
Mais do que localização ou palácio, o bairro das Janelas Verdes representa, na forma que Eça de Queiroz é mestre, "um tipo social". Lugar de famílias antigas, que interessou para a caracterização d' Os Maias. O bairro recebeu a burguesia e a nobreza vinda do Brasil no séc. XVIII, o que justifica os muitos hotéis, embaixadas e edifícios públicos em casas nobres ou conventos aqui localizados, como é o caso do Museu de Arte Antiga.
A intervenção localiza-se no piso térreo de um edifício originalmente projetado pelo arquiteto José Marques de Brito. Pelo exterior, adapta-se ao novo uso melhorando as condições de segurança, exposição solar, térmica e acústica. Respeita e potencia a envolvente, pela aproximação aos valores transmitidos pela arquitetura e ambiente do bairro. São mantidas as cantarias existentes e a nova caixilharia funciona com janelas oscilo-batentes de vidro duplo, que ventilam o interior em segurança, sendo recuadas em relação à fachada para maior privacidade e proteção solar. Pintada à cor verde escuro, integra no espaço sobrante floreiras para plantação de aromáticas, remetendo para as vivências do bairro. Para maior contenção de custos, pelo interior, mantem-se a estrutura portante, quadros técnicos e pontos de água, privilegiando-se o emprego de materiais nobres.
De ligação privilegiada à rua, na área mais exposta, iluminada e ventilada da habitação, surge a cozinha, que funciona também como átrio e espaço de refeições. Pretende-se que aqui o ambiente característico do bairro seja trazido para o interior. Como se subentende pela presença de um elemento tradicionalmente exterior colocado no interior - o corrimão metálico pintado a verde escuro - que estabelece a última relação com a rua, na transição entre o espaço mais social e os espaços mais reservados da habitação, no piso inferior.
O plano de parede, que acompanha a escada, desenvolve-se em curva e revela os espaços do piso inferior. Na passagem para a instalação sanitária, cria-se a área técnica e arrumo, ocultada por cortina. Pelo interior, a intervenção permite adicionar arrumação, ampliar o espaço de duche e maior conforto, pelo uso de madeira nos armários e pedra mármore na bancada. Os restantes programas distribuem-se em planta livre. As aberturas são reduzidas e todos os planos de pavimento e parede são pintados a branco, o que possibilita a reflexão da luz no espaço, sem comprometer a privacidade. Nos espaços sobrantes entre a estrutura adicionam-se armários, o que privilegia a fruição livre pelo espaço devido à diminuição de elementos dissonantes.