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Arquitetos: ATELIER XI
- Área: 66 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Chao Zhang
Descrição enviada pela equipe de projeto. Inicialmente, os arquitetos foram contratados para projetar um edifício público de 300 metros quadrados destinado a promover a cultura e as artes em Xiuwu, na província de Honã, China. Entretanto, considerando a vasta área de 630 quilômetros quadrados do condado a ser atendida pelo equipamento, e a dificuldade de acesso entre os vilarejos dispersos, surgiu a proposta de dividir o edifício em uma série de instalações reduzidas em diferentes locais para melhor atender as comunidades locais, o "Miniature Series" (Série de Miniaturas). Estes pequenos edifícios de concreto moldado in loco aparentam nascer do chão como árvores, estendendo seus galhos em busca de luz. Suas localizações variam desde campos, bosques, até o topo de montanhas, e suas formas também diferem: enquanto um surge das paredes em ruínas de uma aldeia abandonada, outro incorpora um teatro flutuante sobre a água. Após finalizado o primeiro edifício da série, o "Peach Hut" (Cabana do Pêssego), foi construído o segundo, o "Library in Ruins" (Biblioteca em Ruínas), ao lado do que sobrou de uma casa de adobe na antiga aldeia de Sunyao que fica a 20 quilômetros de distância do Peach Hut.
A antiga aldeia de Sunyao está localizada em uma área montanhosa distante do centro da cidade. Desde 1996, os moradores foram se mudando aos poucos para novas residências de alvenaria e concreto no vilarejo vizinho, deixando para trás muitas casas de adobe e habitações em cavernas. Anos se passaram, e quando o arquiteto visitou o vilarejo abandonado, encontrou uma rica topografia de montanhas onduladas, encostas áridas, e vastos campos acima destas, que lhe serviram de inspiração para o projeto.
De início, os clientes sugeriram a restauração da antiga casa porém, procurando por artesãos especializados na região, não foi possível encontrar ninguém que ainda trabalhasse com esta técnica de construção em barro. Portanto, o arquiteto propôs utilizar um novo método construtivo criando uma nova estrutura que parece crescer de dentro da construção antiga, como um dispositivo espacial por onde as pessoas pudessem adentrar as ruínas, saltar sobre as paredes da antiga casa e olhar para a paisagem da aldeia, os campos e as montanhas ao longe.
Além disso, o edifício cria um dueto de memórias entrelaçadas. Por um lado, as cavernas, colinas áridas e paredes de terra, fragmentos físicos com textura pesada e vestígios do tempo; por outro lado, a nova linguagem formal do Miniature Series, mas que ao mesmo tempo se adapta ao contexto do local, se tornando um espaço escultórico que se insere e cresce a partir do terreno. Os dois conjuntos de memórias se interceptam espacialmente. Uma entrada de concreto atravessa a abertura da porta original na parede em ruínas, se projetando para fora e convidando as pessoas ao local. Ao entrar, um canto da parede em ruínas se estende para dentro do espaço, guiando o visitante para explorar as cavernas e a encosta de terra no jardim aos fundos. Na fachada posterior foram instaladas portas de madeira no estilo tradicional, constantemente lembrando os visitantes dos diálogos entre o novo e o preexistente.
A fachada e os espaços internos são desdobramentos de uma aproximação com a topografia local. O contorno curvo do edifício reflete a ondulação do relevo e as montanhas distantes, e a laje da cobertura dá origem a um terraço e um escorregador para crianças. Esta curva desenhada pelo projeto salta sobre as paredes preexistentes, conectando todos os ambientes, a entrada no térreo, a varanda e a cobertura. O espaço interno configura uma biblioteca escalonada e uma pequena sala de projeção. A planta e os percursos sinuosos do edifício tornam-se uma extensão do sistema labiríntico das cavernas.
A biblioteca é acolhida pela paisagem da aldeia, pelas construções e vegetação. Nas fachadas leste e oeste, grandes panos de vidro celebram o cenário idílico do entorno. A ideia era proporcionar uma nova energia à silenciosa aldeia, com interessantes geometrias e iluminação. As fachadas norte e sul possuem diversas pequenas aberturas em formatos variados, remetendo às formas dos outros edifícios da série. Estas aberturas criam um jogo de sombras durante o dia e uma superfície de luzes cintilantes durante a noite.
Após sua conclusão em setembro de 2020, a biblioteca tem atraído muitos turistas e também moradores e crianças das aldeias vizinhas, que deslocam-se frequentemente ao local para ler e brincar. A pequena praça em frente recebe regularmente atividades comunitárias como encontros e festivais. O espaço foi utilizado durante o Fórum Nacional de Revitalização Rural no outono de 2020, recebendo participantes de todo o país. Ao mesmo tempo, a aldeia de Sunyao também atraiu empresas de webcasting de Xangai e Zhengzhou interessadas em renovar as casas antigas e transformá-las em acomodações para hospedagem, e utilizaram plataformas de transmissão ao vivo pela internet para ajudar a antiga aldeia a se conectar com o mundo exterior.