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Arquitetos: waa
- Área: 2657 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Fangfang Tian
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Playscape (termo que se refere a um amplo playground, uma "paisagem de brincar", em tradução livre) se deu através da reabilitação de um complexo industrial preexistente no norte de Pequim. Um antigo conjunto de armazéns de grãos dos anos 70, interligado por um sistema de transporte. O cliente é uma empresa do setor de saúde especializada em monitorar e auxiliar o desenvolvimento motor de crianças de uma ampla faixa etária.
Com base no conceito "de volta ao bairro", acreditamos que o elemento que falta no desenvolvimento de uma criança em uma cidade chinesa atual é, principalmente, um bairro funcional. Buscamos criar a experiência das brincadeiras de rua e priorizar a diminuição do uso de aparelhos eletrônicos. Inspirando-se na cultura popular do passado e preservando as identidades para definir o caráter de nosso novo bairro, o Playscape incorpora os seguintes aspectos:
- Esconde-esconde (Interação em grupo): A liberdade é vital para estimular a imaginação de uma criança e promover a interação dentro de um grupo.
- Aventura (Risco): O equilíbrio é imperceptível até que o perdemos, as crianças decidem que nível de risco elas se sentem à vontade para experimentar.
- Nichos e cantos (Proporção do corpo): Os espaços são projetados com nichos e cantos para que as crianças possam explorar e compreender a ergonomia.
- Labirinto (Descoberta): Lugares escondidos que precisam ser explorados para se revelar, a rota mais eficiente ou direta nem sempre é a mais agradável.
- Fantasia (Imaginação): A paisagem torna-se abstrata pela remoção de iconografia permitindo cenários flexíveis definidos pelo imaginário.
O Playscape é uma ferramenta para promover o aprendizado através da criação de narrativas, permitindo que as crianças possam imaginar e desenvolver os sentidos de equilíbrio e consciência corporal. Normalmente não damos muito valor ao equilíbrio até que este seja desafiado. Acreditamos que as percepções e respostas emocionais causadas por esse ambiente são recursos que podem contribuir para fortalecer a coordenação e desenvolvimento motor das crianças.
Para conformar este ambiente lúdico foram utilizados três principais elementos arquitetônicos:
Tubos: Este elemento é explorado em diversas escalas e dimensões, a fim de auxiliar no desenvolvimento das noções de proporção e consciência corporal. Os tubos aparecem por exemplo, nas passarelas, escadas, estruturas de guarda-corpo, escorregadores, e iluminação.
Cobertura: É o ponto mais alto do conjunto, de onde se pode ter uma visão geral do cenário e de suas possibilidades, oferecendo às crianças a opção de escolher caminhos menos convencionais. É possível percorrer a volta toda, caminhando pelos terraços, passando por baixo dos morros, e transcender para baixo através de escorregadores que variam de 7m a 4,3m de altura. Este circuito permite que as crianças possam escolher rotas alternativas, que podem ser mais longas, mas também mais divertidas.
Morros: Esta topografia acentuada potencializa o desenvolvimento da noção de equilíbrio e da liberdade de tomada de decisão. Os morros e rampas permitem que as crianças explorem e avaliem os riscos de percorrer as diversas inclinações em diferentes velocidades. Foi criada uma área coberta aproveitando o espaço sob esta superfície, podendo ser acessada através de uma série de recortes e escorregadores a partir do nível do terraço.
O programa se dá em um complexo de edifícios formado por um conjunto de armazéns preexistentes em torno de um pátio. O edifício sul é separado por uma via pública, sendo reconectado através de uma passarela fazendo a ligação entre os terraços na cobertura. O projeto também oferece um acesso privado a uma creche vizinha, e uma opção de entrada no parque público ao lado.
Os edifícios existentes oferecem mais 3 ambientes lúdicos internos. O primeiro é um espaço para crianças de 2 a 4 anos de idade, em um único nível com pé direito de 6m com tecidos pendurados, usado como uma área para estimular os bebês a engatinhar. Ao lado dessa área fica também uma biblioteca e um restaurante. O segundo é destinado para crianças acima de 4 anos, formado por um volume dividido verticalmente em três níveis, incluindo um espaço interativo subterrâneo, uma área com topografia de rampas íngremes, e uma rede tensionada suspensa, todos conectados por escorregadores. No segundo e terceiro pavimentos também encontram-se um total de 6 salas de aula multifuncionais. Um único escorregador de 7m conecta verticalmente a sala de aula ao primeiro pavimento. O Edifício Sul está separado do pátio central pela via de acesso porém conta ainda com uma vista para o parque público. Todos os edifícios têm um terraço facilitando a observação das crianças e ao mesmo tempo permitindo acesso a serviços específicos para os pais, incluindo um bar.
As crianças são frequentemente agentes passivos em cenários que há necessidade de tomada de decisão. A brincadeira é muitas vezes o único momento em que estão no controle da situação. O foco do projeto era abordar os elementos que faltam no cotidiano da vida na cidade, distorcendo escalas, manipulando percursos e movimentos para construir uma ferramenta de aprendizagem sensorial. Os ambientes se transformam através das atividades ali desenvolvidas, com um certo nível de risco e desafio para que as crianças possam imaginar e sentir o que elas consideram ser os limites de sua própria aventura.
"No brincar, não se prevê um produto final. A brincadeira permite interromper o julgamento. Muitas vezes, a solução de um problema desencadeia a possibilidade de outro conjunto de problemas. Em uma construção real, enxergamos relações que não poderíamos ter previsto para aquela escala, a menos que estivéssemos fisicamente ali presentes" Richard Serra.