- Ano: 2021
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Fotografias:Francisco Nogueira
Descrição enviada pela equipe de projeto. O design da exposição segue as linhas de pensamento: Trabalho de campo: a ressurreição do mapa de Henrique Galvão de 1934, um quadro referencial transnacional complexo. Tradução: tema muito atual e mal utilizado das fronteiras, periferias, nações ditando convenções de um lado contra o que poderá acontecer do outro. Linhas: sugerida por um grid disforme, parcialmente invisível, que oferece narrativas potenciais de diversidade referencial, borrando as noções de norte-sul. Geografia: uma insinuação de grid espacial tridimensional deixa escapar qualquer pertencimento claro. Escolha: "se eu tivesse que escolher entre The Doors e Dostoyevsky, então - é claro - escolheria Dostoyevsky. Mas eu tenho que escolher?" (Susan Sontag em Jonathan Cott, The Complete Rolling Stone Interview, Yale University Press, 2013).
O grid tem uma potência particular que se estende muito além de sua presença gráfica. Na arte, ele surgiu como um dispositivo ótico para explorações visuais em perspectiva, particularmente intensa na época de Paolo Uccello. Na cartografia, as coordenadas cartesianas têm ocupado amplamente o mundo dos mapas como um sistema referencial desde o século XVII.
A particularidade do grid, como Rosalind Krauss expressou em seu artigo "Grids", publicado na revista October em 1980, é sua capacidade de mascarar e revelar, estabelecendo um jogo aparentemente ordenado de aparência e desaparecimento. O que se revela é o que pode aparecer sobre o grid, uma vez que é estabelecido. O que se mascara ou se oculta é uma condição pré-existente que sua própria disposição encobriu, como uma ação de apagamento sobre um contexto predominante.
A discussão sobre a validade do grid como sistema referencial é, assim, naturalmente complexa, ainda mais em uma exposição que trata das condições pós-globalismo que colocaram sua linha de pensamento pivotante em um mapa ("Portugal não é um pais pequeno", de Henrique Galvão 1934), abrindo as portas para a cartografia como uma ferramenta de colonização. Os mapas apresentavam visões específicas do mundo com seu grid cartesiano, e estas visões foram guiadas pela vontade marcial de conquistar partes do mundo apresentadas nestes mesmos mapas.
A exposição X Não é um País Pequeno aborda modestamente esta complexa e longa história, levando o grid a uma esfera tridimensional para abordar as questões contemporâneas do mapeamento do mundo e sua transformação em realidades data-based. E confessa um certo grau de confusão convoluta ao se referir ao mundo. Uma vez que o jogo de poder das classificações norte-sul ou leste-oeste tenha sido distorcido, como o atual estado geopolítico do mundo obviamente indica, que sistema de grid poderia ordenar ou reordenar fielmente a geolocalização de presenças físicas e virtuais? O grid de coordenadas cartesianas ainda é politicamente aceitável? Alguma vez ele foi? Indiretamente, a natureza infinita do grid abre também uma discussão sobre limites, fronteiras e agendas de dominação.
O particular espaço oval do MAAT oferece um cenário interessante para hospedar tal hipótese de presenças pós-globais. Para X Não é um País Pequeno, foi traçada uma divisão para que os visitantes as confrontem de alguma forma com uma escolha de itinerário. O design e as peças de arte abordam de forma bastante aberta este sentimento de des-pertencimento seguindo o entendimento convencional das identidades nacionais. No espaço de exposição, elas se espalham "livremente" de um lado ou do outro de uma linha física e fictícia: um muro de fronteira. Elas aparecem e desaparecem em relação umas às outras, à arquitetura do museu e ao design da exposição.
A variedade de mídias, físicas e virtuais também é organizada para fornecer indicações sobre a impossibilidade de classificação. É a escolha do visitante para reorganizar a lógica norte-sul-sudoeste-oeste e recompô-la em uma condição contemporânea, uma ficção histórica renovada.