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Arquitetos: Felipe SS Rodrigues
- Ano: 2021
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Fotografias:Fran Parente, Felipe SS Rodrigues
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Fabricantes: AL Marcenaria, Aluv Móveis Externos, Arqlinea Móveis, JRL Marmoraria, Morada da Floresta, Palano Metal Serralheria, Tok&Stok
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto das áreas comuns e paisagismo do Bem Viver General Jardim - é um trabalho complementar e em sintonia com a arquitetura do edifício, desenvolvida pelo SIAA Arquitetos. O volume de ar, o vazio, é na história da arquitetura um dos elementos ocultos mais celebrados e atemporais. Entre os pilares de pedra dos templos da Antiguidade, entre os arcos das catedrais góticas, sob o domus de Brunelleschi, entre ornamentos barrocos e rococós — seja no Brasil ou no exterior —, sob as cascas de concreto de Niemeyer, o vazio está presente. E se a arquitetura é analisada pelos elementos duros, como de costume, podemos facilmente esquecer que eles cumprem na verdade com outra ambição paralela, que é encapsular o vazio de tal modo que a materialidade faça algum sentido, e seja ela responsável pelo que chamamos de Arquitetura.
O que pode parecer muito distante — de um edifício residencial no centro de São Paulo finalizado em 2021 — na verdade esconde ambições ainda muito similares. Ao passo que a criação desse térreo com pé-direito duplo, que atravessa da rua ao fundo do lote, e garante permeabilidade ao jardim, ainda esteja atrelada a disponibilidade financeira e contexto sócio-econômico, e não ao desejo restrito da arquitetura, ou em outras palavras, tendo em vista que a decisão pela criação deste espaço continua sendo um esforço da empreitada e de representação de uma qualidade espacial que seja distinta da cotidiana, ainda continuamos a moldar o vazio com certo esforço e propósito.
Diante do investimento e da generosidade espacial do Bem Viver General Jardim, nosso trabalho, tanto nos interiores quanto no paisagismo, tem a intenção de valorizar e enfatizar esse atributo. O mobiliário e elementos que compõem a usabilidade destas áreas comuns foram pensados transparentes, móveis, e leves; independentes e desvinculados da massa construída. Como a luminária dupla-face, com 30m de extensão — com iluminação difusa na parte superior e direta na parte inferior —, desenhada sob medida no comprimento do edifício, valorizando os fundos de laje e vigas da mesa de concreto, que fazem a transição do sistema construtivo em alvenaria estrutural da torre para o embasamento em concreto moldado in loco. Mesas e cadeiras aeradas na cor preta para as áreas abertas — cor da telha ondulada perfurada definida pela arquitetura para envelopar as alvenarias cegas —, e mobiliário branco para os ambientes fechados.
A mesa do salão de festas foi pensada como uma única barra com 16 lugares, que ao mesmo tempo celebra a ceia coletiva e sugere um número adequado de usuários para o espaço. Também foram desenhadas superfícies com três níveis de interação para o coworking, a sala de estudos coletiva; com altura de banco, mesa tradicional e mesa alta. Tanto o trapézio fora da projeção do prédio, que abriga espreguiçadeiras para se tomar sol, quanto a horta coletiva e biblioteca conjugada à lavanderia compartilhada, foram programas que surgiram a partir das primeiras conversas com a incorporadora, somando-se ao salão de festas, jogos, bicicletário, coworking e lavanderia, já previstos no programa básico da arquitetura.
Já para o paisagismo, propusemos o avesso de tanta coerência. Um jardim erudito e ao mesmo tempo banal. Desta vez não se trata da recorrente exuberância das folhagens; aqui, um pouco de diversidade, como a cidade. A vez delas: preferencialmente, plantas acompanhadas de flores, quase sempre renegadas pelos paisagistas. Um jardim mutável durante os meses, durante as estações. Algumas ervas daninhas são bem-vindas, mas com flores. Certamente mini-rosas com espinhos - para que as crianças aprendam desde cedo que a beleza pode ser perigosa. Manjericão para a pizza que acabou de chegar. Quebra-pedra — o arquiteto tem cálculo renal e mora a duas quadras. Érica, flores roxas pequenininhas. E a lavanda? - foi a Vera do 203 que acabou de plantar. Dama-da-noite que arrebata corações. Primavera que desabrocha no verão — criada em estufa, coitada, perdeu a estação. Orquídeas-bambu, que mesmo magrela e comprida passarinho gosta. Gosta também de lírio-da-paz — desse vamos plantar muito —, senão só a lágrima-de-cristo resolverá. Um jardim que sobra e cabe mais um pouco mais. Um jardim de fazer a avó morrer... — de inveja! — e querer levar uma muda; o zelador não pode ver. Quem sabe ele também floresça em outro lugar. Quem sabe...