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Arquitetos: João Cravo, PROMONTORIO
- Área: 500 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Alexandre Ramos, Luis Viegas
Descrição enviada pela equipe de projeto. A casa está localizada no sudoeste alentejano, no interior de Santa Margarida da Serra, em Grândola. Neste território remoto, a suave e ondulante topografia contrasta com a dureza da paisagem, com a sua vegetação seca e esparsa de sobreiros e azinheiras em solos calcários.
Num contexto de isolamento, o conceito da casa evoca a tradição da alcáçova portuguesa, —ou qasbah, seguindo a sua origem e etimologia árabe—, que funcionava como uma cidadela defensiva, ou monte, com os diferentes volumes construídos no seu interior, protegidos por um perímetro de muros altos. Poeticamente, convoca a noção Heideggeriana de “espaço delimitado”, da necessidade humana de definir um limite do habitar na imensidão da paisagem. Na verdade, esta tipologia de casa agrícola fortificada é a forma dominante de ocupação em todo o Magrebe e Mediterrâneo, desde a antiguidade romana e civilização árabe, aos excursos modernos de Fernand Pouillon ou Le Corbusier em Argel.
A casa foi então concebida como um grande rectângulo murado, em torno do qual internamente se agregam uma série de volumes. O exacto posicionamento da casa na paisagem é formalmente delimitado pelo distanciamento regulamentar permitido aos limites da propriedade; por outras palavras, e em termos legais, a localização teria que ser ali mesmo. Implantando-se numa linha de vale, surge semiafundada na esquina sudoeste, emergindo-se progressivamente em direcção ao nordeste. Para além de um portão de canto e da pequena porta de entrada, as paredes exteriores são cegas; excepção feita ao alçado nascente que se abre para um grande terraço exposto à imensidão da paisagem e à presença de uma pequena ribeira mais abaixo.
No interior, três volumes ocupam os lados norte, nascente e poente do grande pátio, constituindo-se, respectivamente, na ala de quartos, na ala de salas e cozinha e, por último, no quarto de serviço e garagem; enquanto o vazio a Sul é ocupado por um pomar. As áreas comuns funcionam numa sequência clássica de salas, desde a cozinha à sala de estar e biblioteca, separadas por portas de correr simétricas. A área de refeições é dividida da sala de estar por uma grande lareira com uma chaminé metálica suspensa.
O sistema construtivo da casa baseia-se em paredes autoportantes de tijolo, sobre as quais assenta um sistema estrutural de vigas de madeira e tabuado. Revestidas no exterior em alvenaria de pedra caiada de branco, as paredes espessas são cobertas na cimalha por uma telha canudo, por sua vez sugestiva de um telhado que de facto não existe. A espessura da textura destas superfícies simula uma condição vernacular e quase arcaica que é, no entanto, ironicamente negada pela sua escala e desenho.