-
Arquitetos: Pedra Líquida
- Área: 514 m²
- Ano: 2019
-
Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG, Alberto Plácido
-
Fabricantes: AutoDesk, Duravit, Fluxograma, GRUPNOR
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto Hotel Tipografia do Conto, recentemente nomeado para o EU Mies Award de 2022, abrange a reabilitação de um conjunto arquitetónico formado por dois edifícios semelhantes, em estilo Deco (1916). De tipologia oficinal, estes edifícios implantam-se em dois lotes da Rua Pedro Álvares Cabral, artéria do Porto aberta na transição para o século XX, e caracterizada por frentes estreitas, longos espaços interiores, e jardins traseiros, ocultos da rua. Durante décadas, esses edifícios albergaram a Oficina Tipográfica “Gráficos Reunidos”, atividade que entrou em falência em 2014, provocando a degradação do conjunto.
Em 2016, deu-se início à reabilitação do conjunto para novas atividades, na área dos serviços, com destaque para um Hotel de 10 quartos. Um século depois, este novo programa confere agora alento a uma rua e a uma cidade que viu desaparecer muitas das suas atividades tradicionais. O Hotel guarda memórias dessa ocupação anterior: as fachadas principais, o open-space térreo, algumas chapas de impressão, e os belos contadores em madeira para composição tipográfica.
O novo projeto assume a sua contemporaneidade, optando por novas materialidades e texturas, como as do betão aparente, em lajes, caixas de escada, fachada traseira e pisos recuados. Retoma-se, ainda, um pátio de iluminação/ventilação central, no edifício do Hotel e a amplitude do piso térreo no Café Cultural anexo. Nos quartos do Hotel, essa materialidade convive com a delicadeza de pequenos “gabinetes” em madeira e vidro espelhado que contêm as casas de banho. As fachadas voltadas ao pátio do Hotel – uma composição em estrutura de madeira de Riga – reaproveitam as traves da antiga tipografia, complementada por panos laterais em azulejo manufaturado. Já os recobrimentos decorativos dos tetos em betão aparente, formados por diversos textos em baixo relevo, aludem à ideia de impressão e de edição.
No edifício do Hotel, parte-se de uma estrutura degradada, a qual é reestruturada à custa da introdução de novos sistemas construtivos em betão, ainda que articulados com materiais presentes na memória da cidade e do lugar: vigamentos em madeira de Riga reaproveitados, azulejos manufaturados, elementos em ferro latonado. No edifício do Café Cultural, de apoio ao Hotel, mantêm-se os sistemas construtivos preexistentes, introduzindo outros elementos também eles relacionados com essa memória: azulejos, portadas recicladas, mobília vintage.
A renovação funcional é também decisiva neste processo: ao criar um programa hoteleiro, que se abre a outros usos coletivos, este projeto dá a conhecer os vestígios da antiga Oficina Tipográfica “Gráficos Reunidos”, que ali se localizava, mas também uma sucessão de pátios e jardins. Desde a sua abertura, o Hotel Tipografia do Conto já dinamizou diversos eventos, atraindo não apenas os seus hóspedes residentes, mas também cidadãos e visitantes do Porto. Essa dinâmica cria sinergias culturais, sociais e económicas no bairro formado pelas ruas de Álvares Cabral e de Cedofeita. O projeto induz um processo de “gentrificação” sustentável, aportando dinamismo ao bairro, e cruzando culturas e geografias locais e globais. O Hotel Tipografia do Conto induz a descoberta da memória industrial da cidade num quarteirão único do seu tecido urbano.