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Arquitetos: AMMA Arquitetos, TANTO Criações Compartilhadas
- Área: 442 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:Patrícia Almeida, André Souza
Descrição enviada pela equipe de projeto. A história desta casa de esquina, construída em 1959 pelo avô do proprietário, é atravessada pelas transformações da família e do bairro em suas seis décadas de existência. Enquanto as casas da vizinhança eram gradativamente substituídas por lojas, bares e prédios, diferentes usos comerciais foram também transformando sua feição e seus espaços internos. O volume icônico em duas águas do seu pavimento superior, marcado por grandes janelas verdes, manteve-se apesar de tudo como forte referência desta paisagem em constante transformação.
Em 2016 o proprietário resolve investir na reforma e conversão do edifício em um espaço de coworking, reaproximando-se afetivamente da casa em que passou sua infância. Lidar com as camadas de memória acumulada sem suas paredes constituiu-se, então, como principal diretriz do projeto. Um trabalho de arqueologia no espaço e no tempo, em que, ao contrário de buscar restaurar o edifício a uma condição “original”, todas as materialidades e espacialidades mantidas, resgatadas ou acrescidas respondiam, antes, a critérios funcionais, estéticos e afetivos. A composição de faixas de pintura descascadas, por exemplo, foi inspirada pela descoberta de um painel de ladrilhos hidráulicos na parede do salão principal.
Volumes anexos foram demolidos, recuperando a relação de protagonismo e leveza do pavimento superior, projetado em balanço sobre as paredes de pedra do andar térreo. Este, por sua vez, foi alterado de maneira significativa, coma criação de jardins no seu perímetro externo e o reposicionamento do acesso junto à escada existente, criando um hall de distribuição dos fluxos entre as salas superiores e o salão de coworking.
O pergolado que se desenvolve sobre a varanda, ao mesmo tempo que sombreia o salão, o resguarda da rua, e unifica o volume da casa com a de seu anexo. Arquitetura viva e em constante transformação, o frondoso jardim de acácias, bouganvilles e jasmins esconde quase completamente a malha de vergalhões, preenchendo a casa com o perfume das flores de jasmim da infância do proprietário.
O vazio, a memória e a vegetação, são, assim, as principais substâncias agenciadas pelo projeto. Atravessando estes elementos, a cor vermelha e as estruturas em serralheria marcam em todo o edifício a presença dos elementos novos. O uso de chapas metálicas, telas de chapa expandida e vergalhões nervurados foi explorado em toda a sua plasticidade, dando forma a pergolados, puxadores, guarda-corpos, corrimões, gradis, portões, janelas e bicicletários.
A possibilidade de desenvolver de forma integrada, desde a concepção arquitetônica e o desenho de mobiliário até os projetos de identidade visual e sinalização ambiental, permitiu realizar um conjunto coerente e coeso de soluções. A logomarca do empreendimento funde em um só símbolo o desenho icônico da fachada pré-existente com as linhas e dobras dos elementos em vergalhão desenhados para o novo uso; as texturas do edifício ilustram as peças da papelaria, enquanto o mesmo tom de vermelho da serralheria é adotado como eixo cromático do projeto gráfico e da sinalização que, por sua vez, adota a linguagem das faixas das paredes e a materialidade das chapas metálicas e revestimentos melamínicos do mobiliário.