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Arquitetos: Colectivo Aqua Alta
- Ano: 2021
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Fotografias:Matheus Paixão, Sandro Bispo
“Construir pontes não se trata apenas de reduzir distâncias. Uma ponte liga margens, conecta ilhas, aproxima pessoas, gera movimento e pode ser indispensável em casos de emergência ambiental ...”
A Ponte Flutuante é peça fundamental na formação do coletivo Aqua Alta. De volta ao país em 2014, integrantes do grupo e alunos que viajaram para a construção do Pavilhão Paraguaio da Bienal de Arquitetura de Veneza, não imaginavam que encontrariam este cenário, sobre o qual não se poderia ficar de braços cruzados.
As cheias no rio Paraguai são recorrentes, mas em julho de 2014 e dezembro de 2015 registrou-se 7,38 m e 7,73 m respectivamente (sendo 9,00 m a altura máxima histórica e 5,50 m o nível crítico de inundações), mais de 4 metros acima do nível onde viviam um grande número de habitantes das cidades às margens do rio Paraguai. E a maior concentração dessas vítimas encontrava-se na cidade de Assunção e arredores.
Desta vez a instalação construída em Manaus resgata esse trabalho realizado em 2014 e 2015, e estes trabalho foram o mote para a instalação no MUSA. Se no passado recente a cidade flutuante em Manaus teve um papel cultural e econômico vital na vida urbana, aos poucos nos distanciamos dessa característica visceral das cidades amazônicas com o deslocamento da população para o interior da floresta.
Em 2021 o Rio Negro atingiu a cota 30,02m - a maior enchente registrada na história de Manaus. Esse fenômeno é recorrente e mais intenso em outros municípios do Amazonas e nos faz buscar soluções tecnológicas para minimizar os impactos nas cidades. Como nós podemos contribuir, como arquitetos, para que as cidades amazônicas não sejam vítimas da indústria das enchentes e possam ter arquiteturas que sejam tecnologicamente adequadas a sazonalidade das águas? A ponte construída com resíduos do Distrito Industrial de Manaus, como uma obra de Arte, é um Manifesto. Inicialmente essa peça funcionalista - como Arte, contrasta com a paisagem natural do lago bucólico e depois irá interagir com o igarapé poluído em plena Reserva Adolpho Ducke, na segunda etapa da instalação.
Continuamos a acreditar em pontes, mas também acreditamos que os problemas estruturais de uma sociedade e de um país se resolvem com propostas capazes de gerar "soluções" concretas e duradouras. Acreditamos que diante de necessidades tão básicas de infraestrutura, arquitetos e demais profissionais devem se comprometer, e se envolver de forma prática. Unindo forças e trabalhando com comunidades inteiras. Para provar que apesar dos recursos econômicos escassos, é possível realizar ações que parecem improváveis.
O NAMA (Núcleo Arquitetura Moderna na Amazônia) apresenta "Pontes Flutuantes” no MUSA e proporciona reflexões aos visitantes sobre a necessidade de ampliar as investigações sobre as arquiteturas flutuantes na Amazônia e também de reduzir os gastos públicos em situações emergenciais - recorrentes pela sazonalidade dos nossos rios.