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Arquitetos: ateliermob
- Área: 850 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Estúdio Peso
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Fabricantes: AISI, Basmat, CIN, Gerriets, JNF, Knauf, Sanindusa, Secil, Silent Gliss, Vicaima
Descrição enviada pela equipe de projeto. Situada na Praça da República, a Torre do Relógio ocupa um lugar central na geografia física, visual e sentimental da Amareleja, destacando-se na planície da vila Alentejana. O início da sua construção, de iniciativa popular, remonta ao princípio do século XIX, com o objectivo de edificação de uma nova igreja.
Tendo vindo a ser construída por impulsos de financiamento da população, em diferentes fases e épocas, a sua construção nunca foi concluída. Em 1838, na sequência de um período de peste, foram realizados enterramentos no seu interior e, em 1879, terá sido alvo, sem sucesso, de uma nova tentativa de conclusão.
Em 2015, o município da Moura decidiu promover a finalização e fecho da cobertura deste edifício simbólico da vila, ainda que mantendo a possibilidade da sua abertura, e criando, no seu interior, um espaço polivalente que pudesse albergar programas de carácter religioso, cultural ou eventos das mais diversas índoles, como sucedia até então.
Pareceu-nos interessante a ideia de perpetuar no tempo a imagem destes impulsos populares que ao longo dos anos foram fazendo crescer o edifício, manifestados nas diferentes técnicas de emparelhamento das pedras e concepção de arcos e vãos. Assim, no seu interior, alvo de muitas e menos qualificadas intervenções recentes, optou-se por efectuar algumas limpezas, reparações e uniformizar a cor a partir de um acabamento de pintura a branco, deixando apenas a textura e as irregularidades próprias do emparelhamento.
No exterior manteve-se o material existente, mas optou-se por introduzir uma nova materialidade na cobertura - o aço corten. Este, com um processo de oxidação controlada, permitiu-nos acrescentar uma nova textura de rápida absorção das marcas do tempo, representando um momento de continuidade horizontal na paisagem.
No que respeita à torre do relógio, o projecto definia que devia ser pintada de branco. No entanto, esta proposta de cor, aprovada de forma unânime por todas as forças políticas representadas no município, motivou uma enorme contestação popular no decorrer da obra.
Na sequência desta constestação, desencadeámos um processo de consulta popular onde muitos quiseram participar e sentir que estavam a decidir sobre a torre mais importante da aldeia. Chegámos a uma solução que, ainda que não repita as cores existentes desde meados do século XX, faz-se com um esquema de cores entre o Amarelo Alentejo e o Vermelho Málaga, muito utilizados na vila.
Este processo serviu para criar um importante laço entre a comunidade e o edifício. Apesar do projecto ir construir uma nova realidade, as cores são um elemento fundamental da memória colectiva que deverá ser tido em conta, como as características do terreno, a envolvente urbanística ou as condicionantes topográficas. Nessa medida, apesar de nos permitirmos algumas correcções no esquema de cores da torre, entendemos que a memória colectiva da cor é um dado que deve ser tido como uma condição do projecto.