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Arquitetos: Al Borde
- Ano: 2020
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Fotografias:JAG Studio, Cortesia de Al Borde
Descrição enviada pela equipe de projeto. José estudou ecologia, sempre esteve próximo à natureza, sente-se parte dela, diluindo os limites entre ele e seu entorno. É isso que sua casa tenta fazer também: ela se espalha em partes no terreno e faz do jardim sua circulação. José e sua casa questionam o padrão de conforto: para ir da cama ao banheiro você tem que sair, e o banho acontece no meio das plantas em sua estufa. Surgem lugares que não sabemos se são jardim ou casa, ou ainda uma casa construída pelo jardim.
Aplicamos lições de arquitetura vernacular nos limiares e imbricamentos entre a casa e o jardim. Ou seja, a estrutura que constrói os habitáculos nasce do jardim, está viva. O chuveiro da estufa foi revestido com folhas de policarbonato apoiadas por uma estrutura atirantada entre os postes leiteiros. A modulação de uma malha de pilares vivos tem seu encanto. A altura dos pilares da estufa é a mesma que a altura dos postes que sustentam a cerca viva. Eles funcionam nas áreas rurais e funcionaram aqui. A carga que transportam é mínima, o que nos permitiu fazer detalhes radicalmente básicos e primitivos.
Esvaziar a barriga é um ritual para José, entre ele e as plantas há apenas uma superfície de vidro. Uma vantagem de seu espaço privado estar isolado da vizinhança é que ele não precisa mais se preocupar com os olhares alheios. Imaginamos que seus convidados terão algumas anedotas para contar após sua visita. Em cada canto do cubículo há um poste leiteiro segurando uma cobertura muito leve feita de compensado protegido com uma manta asfáltica. Aqui as árvores têm cerca de 3m de altura e estão enterradas 1m no solo.
Aprendemos com as histórias rurais para podá-las completamente antes de replanta-las e dentro de algumas semanas começaram a brotar. É impressionante como estas árvores podem ser transplantadas com facilidade: das 46 árvores que usamos, apenas 5 morreram e tiveram que ser substituídas.
Finalmente, mais quatro árvores dão as boas-vindas ao edifício principal. Elas sustentam uma cobertura de policarbonato que se apoia em chaguarqueros amarrados e assim se compõem a área social, para receber a família e amigos. O espaço interno é para cozinhar, comer e dormir, fornecendo abrigo e mantendo uma temperatura estável, olhando para o terreno ao redor, o vale e a cordilheira. Usamos a mesma terra da escavação para construir uma parede de barro que, por sua vez, repousa sobre uma base de pedra que também atua como um embasamento.
A parede em forma de "C" permite que a fachada principal seja composta a patir de uma sequência de janelas de carpintaria estrutural. O telhado distribui seu peso sobre uma soleira de madeira e captura a luz através de duas vigas de seção comum que, para desempenhar sua função, necessitam de um reforço, que é feito por outra peça similar simplesmente amarrada, colaborando na parte da viga que mais trabalha. Em cima: tábuas, um manto impermeável, terra e telhas, entre as quais esperamos para ver como as ervas daninhas crescem.
O projeto é complementado por um sistema de permacultura proposto e construído pelo próprio José, e que ele descreve assim:
A casa não está conectada ao sistema de esgoto: a água preta é limpa através de um filtro com vermes vermelhos (Eisenia foetida); a água cinza resultante da limpeza com sabonetes biodegradáveis passa por um filtro de gordura e filtros com papiro (Cyperus haspan). A água filtrada dos dois sistemas alimenta várias árvores frutíferas. Os resíduos orgânicos vão para uma composteira que alimenta principalmente o solo das hortas vegetais e plantas medicinais. Neste sistema, foram mantidas espécies nativas selvagens que atraem insetos e aves da região, controlando a proliferação de possíveis pragas, controle biológico in situ.