-
Arquitetos: ATELIERDACOSTA, Pedro Bragança
- Área: 180 m²
- Ano: 2020
-
Fotografias:Tiago Casanova
-
Fabricantes: Cerâmica Torreense, Cortizo, GRAPHISOFT
Descrição enviada pela equipe de projeto. A casa existente, num gaveto do Bairro da Vilarinha, tinha já uma ampliação pré-existente a poente, quadrante para o qual poderia voltar a ampliar-se, respondendo dessa forma à encomenda. O bairro, um dos últimos do Estado Novo no Porto apostando na habitação unifamiliar com pequeno quintal para uma classe formada maioritariamente de funcionários do Estado (1958), repete consistentemente a tipologia como modelo numa considerável área de nova urbanização. Em toda a urbanização, há uma clara procura em reproduzir tardiamente alguns modelos modernos de habitação de iniciativa pública, saídos, originalmente, das experiências alemãs e russas do início de século.
Procurámos que a ampliação pedida, cujo programa indicava sensivelmente a mesma área da já construída, mantivesse dois dos seus fundamentos - uma certa elementaridade e a modularidade construtiva - mas alterasse por completo a natureza dos espaços propostos, nas suas dimensões de linguagem, materiais e relação com os diferentes quadrantes solares e envolvente urbana. Destes pontos, a demarcação da linguagem era, aliás, uma prerrogativa imposta pela própria Câmara Municipal do Porto, que estabeleceu normas específicas para as intervenções em bairros do Estado Novo como este, com o intuito de proteger a integridade da arquitectura original, cujo verdadeiro interesse urbanístico só se constitui na leitura do todo.
Assim, ao volume de reboco e pedra, tendencialmente encerrado e monolítico da casa original, justapõe-se um volume tendencialmente aberto e estrutural, no qual qualquer paramento que não vidro é igualmente reflector e miscível com o seu entorno. A geometria de implantação da estrutura é essencialmente resolvida em três pórticos metálicos equidistantes, suporte das novas lajes e reforço das antigas, cujo limite coincide com o pórtico do meio.
A racionalidade económica fundamentou a manutenção das estruturas do corpo original, apenas com o reforço metálico necessário, e prolongou a sua influência no projecto através de uma certa austeridade com que o desenho dos espaços interiores foi abordado No entanto, essa continuidade natural com o espírito do projecto original encontra dissonâncias outras na caracterização do espaço interior, através de uma delimitação clara do sector que usufrui da maior fenestração da nova intervenção, sobretudo por critérios de escala, intensidade e tipo de uso que nos foram sendo relatados.
Assim, um escritório no piso -1, que se abre para um novo pátio à cota inferior, uma cozinha e sala de jantar no piso 0, que se prolonga para um terraço para refeições exteriores, e o maior dos três quartos no piso 1 que se projecta para sul através de uma janela de peitoril, são espaços que se localizam no novo corpo, enquanto uma pequena sala de estar, uma casa de banho e dois quartos menores se localizam na pré-existência. A imposta elementaridade do projecto só foi quebrada depois de descoberto um erro de obra que, no grosso, prontamente se corrigiu, mas de que se deixou pequeno registo, vencidos pela óbvia e jocosa realidade de que um elemento de perturbação seria afinal bem-vindo.