-
Arquitetos: oitoo
- Área: 300 m²
- Ano: 2021
-
Fotografias:Adriano Mura
-
Fabricantes: ARCALO, Amorim, Navarra, Ofa, Saint-Gobain, Sanitana, Sodo collect, Tromilux
Descrição enviada pela equipe de projeto. Ainda que os charmosos centros históricos das nossas principais cidades sejam a face mais visível e fotogénica da “renovação urbana”, é inevitável que o próximos passos dos temas arquitetónicos do reuso e renovação se estendam às imensas periferias urbanas que cresceram exponencialmente a partir dos meados do século XX.
Nos últimos 50 anos, a expansão dos perímetros das cidades produziu uma fusão entre os territórios rurais e urbanos, produzindo um novo tecido híbrido onde é difícil estabelecer as diferenças e os limites entre o que é “rural” ou “urbano”. As construções nestes territórios são os testemunhos da informalidade e hibridização resultante de décadas de construção feita na ausência de planos reguladores e de ordenamento. Frequentemente um “armazém” ocupava o antigo talhão rural, sendo posteriormente transformado em habitação com o simples acrescento de um piso sobre a zona logística. Com o tempo, os requisitos modernos de conforto foram introduzindo sucessivos “melhoramentos”. Os resultados, por vezes surpreendentes na sua síntese entre sensibilidades vernaculares e possibilidades da construção moderna, só muito raramente envolveram projetos feitos por profissionais.
A oitoo recebeu um pedido para renovar uma casa na periferia do Porto, perfeitamente enquadrada na génese anteriormente descrita. O briefing inicial, que previa apenas a resolução de problemas urgentes de melhoria de conforto e eficiência energética, foi alargado quando se reconheceu a oportunidade para se criar uma estratégia de melhoria global da estrutura existente, procurando uma nova coerência e intencionalidade arquitetónica.
Primeiro identificaram-se com pragmatismo, os pontos críticos a resolver: o rés do chão, anteriormente ocupado por uma garagem, com um pé direito reduzido e um layout confuso; a “frente” da casa, preocupada em transmitir um efeito de representação, virando-se para a rua de acesso, pequena e movimentada; o interior que não estabelecia uma relação com o generoso quintal, virado a poente...
A proposta concentrou-se então em re-imaginar a esta Casa enquanto um espaço preparado para receber as grandes reuniões familiares: o rés do chão é reconfigurado de forma a criar um novo espaço, contínuo mas segmentado em três momentos de aproximação ao renovado jardim. Uma nova e generosa relação do interior com o exterior é encenada com a junção de um novo espaço: um jardim de inverno com um espaço de pé direito duplo, para onde convergem os dois pisos da casa.
A adição do jardim de inverno estabelece a nova “face” da casa, invertendo a antiga lógica de representação, propondo uma nova hierarquia em que a fachada principal não é a que se vê da rua mas sim aquela que abre ao jardim e onde se estabelece o novo núcleo do convívio familiar. Atuando como um espaço intermédio, este novo espaço articula todos os níveis da casa com o jardim, regulando o comportamento energético da casa de forma passiva e garantindo que o conforto é conseguido reduzindo ao mínimo essencial o consumo energético.