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Arquitetos: Sebastián Arquitectos
- Ano: 2021
Descrição enviada pela equipe de projeto. Qualquer obra de arquitetura é construída sobre valores essenciais que determinam sua condição e sua natureza. A passagem do tempo e as modificações que fazemos nela podem alterar ou até fazer com que suas razões originais desapareçam. Cabendo, assim, ao restauro a tarefa de buscar essa memória que pode ter se perdido. A capela de San Juan de Ruesta deixou de existir em 2001, seu abandono deixou o destino desta peça única do Caminho de Santiago aragonês nas mãos do tempo. Era conhecida por ter abrigado uma das coleções de pintura românica do séc. XII mais importante da Espanha, recuperada em 1960 e hoje exposta no Museu Diocesano de Jaca.
Com o abandono e a retirada das pinturas, restaram apenas algumas paredes e a abside de um volume que antes se destacava na paisagem do rio Aragón e da serra de Leyre, ao lado de uma revoltante pilha de pedras de suas ruínas. Um restauro como este exige um critério, uma intenção. Neste caso, o principal foi recuperar seu volume impactante, revelado entre os troncos dos carvalhos e que dará ao peregrino um espaço sombreado para fazer uma parada. O novo volume, cerca de 60% do volume da nave principal, repousa sobre o antigo de uma maneira abstrata e única. Um conjunto de linhas horizontais, que segue a estrutura original de alvenaria, cria uma linguagem contemporânea. O plano em que se fez a intervenção encontra-se ligeiramente recuado em relação ao existente, que já esteve nessa posição durante o século XVIII quando a nave central teve de ser reconstruída por razões desconhecidas.
As lajes da cobertura, ligadas à construção antiga, deslizam pela fachada, dando aos beirais um detalhe figurativo que sugere a posição do telhado original e uma abertura da qual restam apenas evidências fotográficas. Um conjunto de pedra lavrada dá continuidade a este corte horizontal e abre para o interior onde uma treliça cria a atmosfera original da capela, trazendo a escuridão que existiu séculos atrás. Lá fora, um memorial se estende pelo campo que circunda a capela, e as pedras de sua ruína se desdobram como um belo percurso que acompanha o peregrino e traz ao presente a memória e a vocação artística que ali já existiram.