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Arquitetos: Gradolí & Sanz
- Área: 1842 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Mariela Apollonio, Bruno Almela
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Fabricantes: Cerámica La Esperanza, Cooperativa Ladrillera, Cristalería Crevillente, GRUPO VALSECO, Junckers, Manolo García, Marti Cots, Morata, SOCYR 99, Salvador Gomis, Serpa
***A obra que apresentamos é a primeira fase do projeto global. Esta primeira fase é composta por 10 salas de aula e espaços de cozinha, instalações e depósitos. A segunda fase abrigará os espaços de entrada e administração, salas de professores e salas de reuniões***
O EDIFÍCIO E SEU ENTORNO. COMO CHEGAR. O edifício localiza-se no limite da zona residencial de Valterna, no município de Paterna (Valência), numa faixa destinada às instalações situadas entre os edifícios residenciais e o En Dolça, morro que separa Valterna da área de expansão urbana denominada La Pinada, propriedade dos mesmos donos do Colégio.
A primeira decisão de projeto determina que a entrada da Escola seja feita pelo morro e não pela cidade. Deve-se levar em conta que, dado o tipo de ensino, os alunos virão inicialmente de toda a área metropolitana de Valência, de modo que a grande maioria chegará em transporte privado, até que o novo bairro de La Pinada cresça e grande parte dos usuários da escola venham dali. Posicionar a entrada dos alunos na estrada de acesso à cidade provocaria o colapso do trânsito nesta rua, que atualmente já está congestionada. A proposta baseia-se no condicionamento de um estacionamento do outro lado do morro para que a entrada fique afastada desta via e aguarde a conclusão do novo bairro.
O morro é incorporado ao projeto, reconhecendo seu papel como elemento natural que forma a espinha dorsal do território superando a visão como algo negativo e perigoso que pesa sobre os morros em nosso imaginário cultural.
As crianças acessam à escola atravessando um pinheiral por corredores de madeira afastados do solo, vendo a escola através das copas das árvores. Os pais poderão aproveitar os espaços desta rota como ponto de encontro e descanso quando levarem ou buscarem seus filhos. As crianças não desaparecem atrás de um portão, há uma transição e um percurso de preparação para chegar à escola... e a cidade fica para trás.
ESPAÇOS INTERIORES. O edifício é moldado adotando a forma de "S" em planta para configurar dois espaços exteriores: uma praça de acesso a oeste e um parque infantil a leste, partindo da premissa de que dois espaços exteriores com duas orientações diferentes proporcionam maior flexibilidade do que um espaço único.
Todas as salas de aula se voltam para o pátio e para o pinheiral. De todas as salas, a conexão visual com a natureza é a protagonista e o centro das atenções, já que não há lousa ou mesa do professor. As salas de aula estão distribuídas em cinco áreas às quais os alunos têm acesso livre de acordo com as suas preocupações e necessidades: área sensorial, área de vida prática, área de linguagem, área matemática e área de estudos culturais.
A entrada de cada sala de aula é feita por um corredor com hall de entrada composto armários e bancos onde as crianças tiram os sapatos e os casacos. O arco baixo na parede nos avisa que estamos entrando em espaços projetados para a escala da criança.
Para usufruir de uma melhor iluminação e ventilação, foram projetados espaços verticais de pé-direito triplo, que chamamos de coletores solares, localizados em uma posição central proporcionam espaço adicional e uma conexão visual transversal entre as salas de aula.
Cada sala de aula é complementada externamente por um terraço coberto, um pequeno anfiteatro, uma fonte e uma árvore de folha caduca. Quando o tempo permite, a sala de aula abre-se para o exterior e a árvore com as suas mudanças sazonais torna-se mais uma companheira.
O projeto cresce como um organismo, cada célula adquire sua forma de acordo com as necessidades e então se agrupa e interage com as demais células. Uma vez que as salas de aula estão dispostas em leque, o espaço de relação que as une não é apenas um local de passagem funcional, mas também, com o seu alargamento, os seus recantos, as suas varandas e corredores sobre o pátio exterior, torna-se um espaço de encontro, de trabalho e de brincadeiras. Uma ágora voltada para fora põe fim a esse caminho pelos espaços de relacionamento.
Em todos os espaços existem recantos pensados para a escala reduzida das crianças aproveitando os sótãos sobre os sanitários das salas de aula, abaixo dos patamares das escadas, junto às janelas ao nível do solo. Espaços inacessíveis para adultos devido à sua altura reduzida e que se tornam reduto e santuário desse estado que chamamos de infância.
ESPAÇOS EXTERNOS. Os parques infantis e zonas ajardinadas (pátio leste, terraços oeste e pinheiral do outro lado do morro) são concebidos ou mantidos como espaços naturais: raízes, troncos, ramos, folhas secas, abacaxis, aspargos na primavera e cogumelos no outono são os seus componentes. Não são espaços assépticos. Sem grama, muito menos grama artificial. Trata-se de alunos interagindo com a natureza, não sobre a criação de um ambiente verde. Também não há quadras de esportes ou campos de futebol, trata-se de criar espaços de relacionamento, calmos e igualitários entre os gêneros. As encostas são usadas para gerar rampas, escorregadores, escadas e paredes de escalada, varandas e passarelas, abrigos e cavernas... e quando chove, quando chove de verdade, água agitada passa pelo morro.
MATERIAIS. Utilização massiva de materiais com menor impacto ecológico: barro cozido e madeira. A argila queimada nas paredes portantes de 60 cm de espessura feitas com tijolo perfurado, convencionalmente impróprio para exibição, nas abóbadas de tijolo maciço com três fiadas, também estruturais, nos pavimentos. Madeira na estrutura e no painel da cobertura, no revestimento interior e exterior, nas esquadrias.
O concreto é utilizado apenas em fundações e o aço em pilares e guarda-corpos singulares. Não existem revestimentos, não existem forros falsos ou pavimentos falsos. Tudo é visível, a parede de tijolo é estrutura, divisória e revestimento, com a sua textura, com os seus defeitos. As instalações são visíveis, é possível acompanhar seu layout por todo o edifício, entender como tudo funciona, como é sustentado, como foi construído. O prédio é o primeiro material didático da Escola.
E tudo isso sob o manto ondulado do telhado verde, prado que descerá, quando a segunda fase estiver concluída, até repousar sobre a cerca perimetral, que cobre, isola e proporciona inércia térmica, protegendo todo o edifício do sol e chuva. A construção quer desaparecer, passar despercebida sob o manto verde que é a verdadeira fachada quando olhamos da cidade, de longe, de nossos computadores ao sobrevoar com o Google Earth.