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Arquitetos: Vazio S/A
- Área: 245 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Eduardo Eckenfels, Leonardo Finotti
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Fabricantes: Atelier Baumeker, Atmosphere
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto expográfico da mostra “Marcel Gautherot: Registros modernos da invenção da Pampulha” procura ser uma resposta à arquitetura do salão da Casa do Baile na Pampulha (Oscar Niemeyer, 1943) e foi concebido a partir dessa pré-existência, ou desse espaço arquitetônico moderno.
A planta do salão é circular, sendo que seu círculo é definido por uma sequência de arcos de alvenaria e vidro. Tal como a exposição que propomos, que também é feita de arcos. Em diálogo com os limites do salão, eles definem novos ambientes côncavos e convexos, ou espaços curvos dentro de um espaço curvo. São arcos que dialogam com a arquitetura e acrescentam novos movimentos ao salão, induzindo o visitante a percorrer os quatro lados dos painéis curvos (ou os quatro temas da curadoria) e criando distintas passagens de espaço – por hora estreitas, por hora abertas e largas.
Os lados convexos estão voltados para o arco de alvenaria do prédio onde estão instalados os créditos da exposição, ponto de partida da visita. Estes lados convexos são sempre lisos, enquanto os lados côncavos são sempre “construtivos”, revelando sua estrutura e seu esqueleto.
Todos eles definem um ensaio visual sobre uma determinada arquitetura. O primeiro deles, disposto logo na entrada da mostra, apresenta as fotos da Pampulha feitas nos anos de 1947 e 1966. São imagens clássicas, com enquadramentos estudados, contraste de tons de cinza expressivos e ângulos que realçam as curvas dos prédios.
Os outros ensaios nos mostram mais nitidamente o outro lado do trabalho de Gautherot: sua sensibilidade de arquiteto e antropólogo, sua vocação múltipla para registrar construção e vida, eventos e edifícios, processo e resultado.
As imagens mais conhecidas do fotógrafo são as de Brasília, especialmente as fotos das ferragens da cúpula do congresso nacional. O contraste entre a afirmação de Brasília e o improviso de Sacolândia – um bairro feito com sacos de cimento para abrigar os candangos recém-chegados – reflete uma contradição da construção da capital pouco divulgada pela imprensa da época e que infelizmente persiste em nossos dias.
Em Congonhas – terceiro tema da exposição –, Gautherot captou o momento de uma romaria com uma rara sensibilidade para articular corpo e espaço. Fotojornalistas atentos ao instantâneo e ao fugaz nem sempre sabem fotografar espaço, enquanto fotógrafos de arquitetura nem sempre sabem tirar proveito de pessoas e eventos. Mas aqui, o adro do Santuário de Bom Jesus é apresentado como um fundo indissociável do evento, a mistura de tempos – o tempo estático da arquitetura e o tempo fugidio dos romeiros – temperando movimento e enquadramento, simbolismo e realismo. Ao captar o momento irreproduzível de uma cena efêmera, o fotógrafo adota também uma abordagem arquitetônica para estruturar suas fotos, corpo e arquitetura representados simbioticamente.
O último ensaio, das palafitas da região norte, demonstra explicitamente o Gautherot antropólogo. Artista atento tanto às tradições populares quanto às promessas de uma modernidade impulsionadora, para ele o Brasil nunca foi um só. Pois a modernidade conservadora do país é mesmo feita de duas camadas -- o arcaico e o novo -- sempre sobrepostas e nunca separadas.