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Arquitetos: Atelier Central Arquitectos
- Área: 370 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
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Fabricantes: OTIIMA
O Conceito
Remodelar uma antiga Adega em estado de ruína, conhecida como Casal da Vinha Grande, com vista sobre a Aldeia Galega da Merceana, adaptando-a para uma unidade de habitação com vocação para o enoturismo.
Uma Quinta de produção de Vinho Biológico inspira o desenho da intervenção, pensada igualmente numa lógica de coerência e de respeito pela natureza. Obsessivo o desígnio de manter a imagem de harmonia e de referência da construção existente, implantada sobre um promontório, evidenciada pelo caminho em terra batida que nos conduz visualmente e fisicamente até à porta de entrada.
O Projecto
da adega
Recuperar a antiga adega, mantendo a sua marcante imagem original, dotando-a de condições de habitabilidade para acolher os espaços sociais - uma ampla sala de recepção, de estar e de refeições, e ainda, escondidas nas traseiras dos depósitos de vinho em betão, uma cozinha e uma casa de banho social.
Respeitar as memórias das pré-existências mantendo os depósitos de vinho, o lagar e o pavimento em betão, e todos os elementos estruturais das asnas de suporte da cobertura em madeira. Pontualmente, são rasgadas as fachadas, com vãos de grande dimensão, debruçados a Nascente e a Poente sobre a vinha, protegidos pelo interior através de portadas de madeira de pinho com tratamento a óleo natural, mantendo a aparência crua do material. A chaminé, acolhe e decide o posicionamento da imensa lareira, desenhada na área de estar.
Sobre as paredes existentes, um sistema de isolamento pelo exterior, ETICS, constituído por aglomerado negro de cortiça e argamassa de cal hidráulica de cor branca, garantem o imprescindível conforto térmico, respeitando a imagem original da construção.
A estrutura em madeira, de suporte da cobertura existente, é mantida e recuperada, respeitando o seu valor estético, mas redefine-se o seu detalhe construtivo, com o assentamento de uma forra em madeira de pinho, base de suporte para os novos isolamentos, térmico e de estanquicidade, e para a telha que é reaproveitada.
dos quartos
Acolhendo os quartos, o edifício ampliação implanta-se a uma cota inferior, semienterrado. Esconde-se e afasta-se da Adega, respeitando e preservando, o seu papel de referência na encosta.
Ergue-se ao nível do plano da vinha, como um bloco de pedra cinzenta da região, esculpido pontualmente para assegurar a abertura da escada, a forma da piscina, e os profundos vazios dos vãos dos quartos.
Varandas reentrantes de contemplação, orientadas a Sul sobre a encosta e a vinha, garantem a privacidade e a proteção solar durante o período do Verão e escondem um rasgo vertical, estreito, que ilumina e ventila a casa de banho.
Uma piscina sem fim, escavada na cobertura do bloco de pedra, espelha toda a paisagem e encerra o volume, a nascente.
do túnel
Um túnel subterrâneo em betão aparente, com um desenho fluido e orgânico, une os edifícios evocando a temática vinícola.
Um percurso encerrado, em silêncio mas com ressonância; escuro, mas pontuado por uma claraboia circular de iluminação poética. Um momento de pausa, na transição da área social para um lugar privado.
dos espaços exteriores
Privilegiando a “força” da vinha, como paisagem tão mutante ao longo do ano, o traçado do percurso de acesso é mantido.
É apenas reforçado estruturalmente, garantindo-se sempre a circulação de veículos, mesmo em condições adversas.
Afastado da construção, e aproveitando uma ligeira depressão do terreno, define-se uma área de parque de veículos, que se revela oculta por vegetação. Em saibro estabilizado, desenha-se um percurso em redor da adega, orgânico e fluido, circulando entre árvores mediterrâneas de grande porte e plantas aromáticas.
A norte, com acesso pela cozinha, delimita-se uma eira, uma área de churrasco para um convívio associado às provas de vinhos, com uma estrutura ligeira de sombreamento em aço. Uma latada que consolida o crescimento da vinha.