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Arquitetos: Simon Letondu Architecture
- Área: 163 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Nicolas da Silva Lucas
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Fabricantes: Argilus, Biofib, VMZINC
Descrição enviada pela equipe de projeto. A proximidade imediata do mar é o principal atractivo e a pior ameaça. As tempestades arrancam as árvores. Os ventos transportam o sal, a areia, os assobios, as chuvas. Eles provocam os habitantes e a construção.
Cidade despovoada no inverno, Saint-Pair-sur-Mer é movimentada no verão. Carros, gritos e churrascos invadem os jardins e as ruas. A busca do horizonte puro é contrariada por uma paisagem de aglomerações.
Uma pequena casa de praia dos anos 60, com um conforto básico, ocupava a parte noroeste do terreno. Uma garagem e um galpão ocupavam o canto sudeste. Entre estas duas construções estava um jardim. O pedido inicial consistia na reestruturação e ampliação do pavilhão da orla marítima e das suas dependências, com o objetivo de transformá-lo numa residência principal e numa casa de hóspedes acessível às pessoas com deficiência motora.
Os edifícios existentes deviam ser isolados pelo exterior, o que implicava em uma mudança de imagem. O conjunto devia explorar ao máximo os recursos disponíveis. As contribuições solares deviam ser otimizadas e o aquecimento devia ser assegurado por um fogão a lenha em cada casa. As águas de chuva são usadas para o jardim, o banheiro e a máquina de lavar roupas.
A estrutura preexistente é totalmente integrada ao projeto. Ela constitui três lados do jardim fechado e mantém o espírito do lugar. Em reação às ameaças naturais e à agitação do litoral, emergiu das nossas discussões uma necessidade de construir contra os limites. Decidimos abandonar a vista para o mar para nos concentrarmos num espaço fechado, o jardim.
É o lugar unificador das duas casas. Todos os ambientes diurnos, ou de uso social, são dispostos no nível do jardim e ao redor dele. Um percurso coberto permite passear pela área verde e ir a todas as partes do conjunto, como um claustro.
Este ambiente intimista amplia seu horizonte com dimensões poéticas. No jardim, o corte do solo revela as temporalidades sazonais do mundo terrestre, enquanto o corte do céu abre o habitat aos ritmos diários das marés, nuvens, chuvas e estrelas. O percurso do sol transforma o jardim em um relógio solar. O uso do zinco no revestimento e no telhado torna estas manifestações ainda mais visíveis.
As casas contemplam a chuva com todas as janelas abertas graças ao beiral do telhado. Ela cai como uma cortina nos rios de seixos. Pela sucessão de asfalto, pedras de paralelepípedos, decks de castanheiros, a travessia de um portal, a evocação de um caminho livre, o lago que transborda sob um grande alpendre, alguns degraus, um capacho, o calor do fogão na entrada, as camadas proporcionam profundidade ao habitat. A multiplicação de jardins íntimos e secretos dá a sensação surpreendente de que o terreno é maior do que é originalmente.