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Arquitetos: Estúdio Lota
- Área: 110 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Guilherme Uemura
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Fabricantes: Brasipiso, Del Favero
Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado na região central – e também mais valorizada – da cidade de São Paulo - Brasil, o apartamento de 110m2 se situa em Pinheiros, bairro de uso misto conhecido por suas manifestações artísticas, principalmente o grafite, e também pela vida boêmia. Seus bares, galerias, lojas e restaurantes são referências na cidade, e garantem aos moradores um estilo de vida urbano diversificado, com acesso a inúmeras facilidades.
O edifício que contempla nossa intervenção data de 1996, período de intensa verticalização do bairro. Sua estrutura foi concebida em concreto – e escondida debaixo de sancas, forros e grossas paredes de alvenaria. A planta original segrega o espaço de serviço do espaço social, revelando muito da vivência doméstica brasileira marcada por um passado colonial e escravocrata. Esta opção arquitetônica esconde o serviço doméstico, realizado principalmente por "empregadas domésticas”: funcionárias de frequência diária, em geral mulheres, negras, que vivem na periferia, intencionalmente excluídas de acessos e oportunidades. Esta concepção é evidenciada pela presença de um quarto conjugado à área de serviço, com metragem quadrada mínima para comportar uma cama de solteiro, chamado na planta arquitetônica original de “quarto de empregada”.
Inicialmente, a intenção do proprietário – que dispunha de verba limitada para investir na reforma do apartamento – era substituir os revestimentos internos por opções mais suntuosas, a fim de tornar o imóvel mais atraente para possíveis compradores. Em nosso entendimento, no entanto, a troca de revestimentos não traria mudanças estruturais ao espaço e nas dinâmicas de vivenciá-lo, e portanto indicamos exatamente o contrário: investir em uma reforma estrutural do espaço e economizar nos revestimentos e acabamentos.
O projeto se concentra na subtração de fechamentos e revestimentos – a fim de que não haja distinção espacial entre social e serviço – e na adição de dois objetos que organizam o espaço: a ilha de formato orgânico em concreto e o biombo cerâmico. Há ainda um terceiro objeto, este não foi adicionado mas sim revelado: um pilar de 1,70m, de presença escultórica, que marca a oposição cromática entre a cozinha e a sala de estar.
Flutuando sobre o piso branco e contínuo em microcimento, onde antes era o “quarto de empregada”, está o ponto central de encontro do apartamento: a ilha de formato orgânico em concreto, que parece orbitar em torno do maciço pilar. A inserção do biombo revestido de placas cerâmicas em frente à porta de entrada ampara o momento de chegada ao apartamento, e cria uma surpresa que aos poucos revela a sala de estar, um ambiente acolhedor de tons quentes, com piso de madeira de ipê restaurado e clareado, e marcenaria em madeira tauari.
Esta é a primeira aproximação de um novo estúdio de arquitetura, que se depara com negociações e soluções paradoxais em uma cidade cheia de conflitos. Longe da intenção de ser uma espécie de reparação ou solução, o projeto investiga o uso de materiais e soluções, e aponta possíveis caminhos para o uso doméstico.