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Arquitetos: Agora Arquitectura
- Área: 80 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Joan Casals Pañella, Jose Luis Cisneros Bardolet
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Fabricantes: Louis Poulsen
SOB ABRIGO DE UM MURO
Allà la veig!, de feixes i boscos rodejada,
amb sos pallers que daura del sol ponent la llum.
Ja veig ses parets, sa rústega teulada,
sa negra xemeneia que de la llar sagrada
al cel aixeca el fum.
La masia, Francesc Casas i Amigó
Estamos no Baix Empordà. No topo de um pequeno morro, com vista para um conjunto de campos cheios de girassóis. De frente para o mar, frente aos fortes ventos de Tramontana. Atrás de um velho muro de uma casa, que guarda em ruínas sua casa agrícola e território anexo.
A encomenda do projeto pedia pela reconstrução do edifício para transformá-lo em uma casa de final de semana. O projeto está localizado sob o abrigo da única parede que ainda resistiu ao passar do tempo.
Dois dormitórios, protegidos da vista externa, do sol quente do verão e do vento frio do inverno, estão situados paralelamente ao muro preexistente. Um, voltado para o sul, olha para uma das extremidades do muro. Outro, voltado para sul e leste, penetra no centro da parede através de uma pequena janela que conecta diferentes tempos no horizonte. Além do muro, o grande salão domina as vistas. Na parte central da casa, uma caixa preta com vão livre contempla todos os serviços domésticos. Dois banheiros novamente revelam o contexto, através do reflexo dos espelhos e dos azulejos esmaltados. Competindo com as vistas da sala de estar, a cozinha reitera a materialidade dos banheiros com mármore polido.
Essa estratégia de relação com a preexistência é possível a partir de um pequeno deslocamento de 80cm que separa os traços do antigo edifício do novo. O deslocamento sutil evita que o antigo edifício seja deslocado durante a obra do novo. Esse espaço foi mantido a partir de um extradorso feito em pedra proveniente da escavação da soleira aparente. Mas, acima de tudo, nos obriga a vaguear constantemente entre limites que indeterminam a presença de ambas as realidades. Reiterando esse partido, 11 pilares de madeira pré-fabricados foram dispostos sobre a base, paralelos à parede existente.
Uma estrutura vertical que, por sua transparência e esbeltez, é capaz de recompor a ruína. Do lado oposto, um novo abrigo de madeira completa os fechamentos da nova casa por meio de uma pele contínua feita em CLT. No sentido horizontal, foi reaproveitado um conjunto de telhas antigas da região. O sentido vertical recebeu acabamento rústico em massa. Trata-se de uma mímese produtiva com os elementos que realmente constroem o lugar.