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Arquitetos: NUA Arquitectures
- Área: 455 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Adrià Goula
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Fabricantes: Moix Ebanisteria, Visolman
"Não deve ter sido muito diferente em Ur há 5.000 anos atrás: os mesmos tijolos laboriosamente criados... Os mesmos espaços ao redor de um pátio, as mesmas paredes, a mesma transição da luz para a escuridão, o mesmo frio após o calor, as mesmas noites estreladas, os mesmos medos, os mesmos sonhos." Aldo van Eyck.
A casa está localizada em uma zona residencial nos arredores de Salou que se articula em torno do Parque Arqueológico da Villa Romana de Barenys, um edifício do século I a.C. utilizado para a produção de cerâmica para a construção e a elaboração de ânforas, utilizado para exportar o vinho de Tarragona para diferentes partes do Império.
Uma única ação pode explicar a casa: fechar-se para entorno imediato, um lugar genérico sem muitos atributos, e fundar um espaço íntimo e agradável para María José, uma mulher de raízes andaluzes que deseja desfrutar de sua recente aposentadoria em uma nova casa que a transporta para os espaços habitados na sua infância.
Alinhados à cultura dos pátios e a maneira de viver nos climas mediterrâneos, recuperando a memória latente das vilas romanas que articulavam o território agrícola da Ager Tarraconensis ao redor da Salauris Romana, cidade conhecida por seu porto estratégico, e com a intenção de evocar as experiências de infância de Maria José entre as sombras das plantas, piscinas e laranjeiras dos pátios andaluzes, propusemos uma casa de pátio, uma casa introspectiva que abriga um oásis em seu interior.
A casa se articula através de um único espaço fluido no térreo que gravita em torno de um átrio, a sala central da casa, e o projeto se concentra na exploração atemporal do habitar entre dentro e fora, entre a escuridão e a luz, entre a incerteza e a segurança. A cerâmica, um material usado historicamente na cidade desde a época romana até o surgimento das primeiras casas de verão modernistas no início do século 20, é o material de construção de escolha.
No perímetro, uma parede sólida de tijolo texturizado, assentado de formas diferentes, protege a casa e proporciona isolamento térmico e privacidade, gerando um limite perimetral maciço que só é perfurado em pontos muito específicos por elementos vazados e janelas. Este tipo de parede cerâmica protetora envolve um espaço central totalmente aberto e transparente, com pórticos, elementos vazados cobertos por sombras da planta e persianas deslizantes que ajustam as condições de luz e temperatura.
A ágora, que se abre a sudeste em busca de luz, é o centro da casa, o palco onde convergem todos os ambientes, o lugar coletivo, o espaço de relacionamento, e ao mesmo tempo é também um espaço intermediário de climatização que além de garantir ventilação cruzada, circulação de fluidos, visuais profundos e boa iluminação para todos os espaços, multiplica as dimensões da casa e permite que o espaço externo seja incorporado ao interior, impedindo que os espaços não construídos do lote sejam entendidos como um resíduo, mas em continuidade com os espaços internos. Este fragmento do exterior no coração da casa permite que a vida doméstica se conecte com o céu e com a passagem do tempo.
A casa é estruturada em torno do eixo de acesso na fachada noroeste, que se materializa através da sequência espacial formada pela varanda de entrada, o hall, a varanda externa e o pátio central. Este itinerário de acesso leva diretamente para o lado de fora, com quase nenhuma forma de adivinhar onde começa a casa. A partir deste acesso transparente, um primeiro corpo contém os espaços comuns e de serviço, e do outro lado do eixo, um segundo volume, que pode funcionar de forma autônoma, abriga o quarto principal.
Estes dois corpos envolvem e convergem no pátio, o espaço que guarda as memórias, o refúgio que Maria José sonhou em compartilhar momentos importantes com a família e amigos, o espaço desejado que se conecta com a memória do lugar e evoca sua terra e suas raízes.