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Arquitetos: Atelier JQTS, Matthias Ballestrem
- Ano: 2019
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Fotografias:João Barata, Flora del Debbio
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto é o resultado de um laboratório de arquitetura organizado pela Universidade Autônoma de Lisboa (UAL). É um workshop intensivo de duas semanas em que a primeira parte é dedicada à análise do território e ao desenvolvimento de uma solução arquitetônica para um determinado programa, e a segunda semana é dedicada à sua construção. O objetivo destes laboratórios de arquitetura é aproximar a educação acadêmica da realidade construída e também reduzir a distância entre arquitetos, clientes e usuários através de um processo colaborativo. Para esta edição do INSITU foi iniciada uma parceria com a HafenCity Universität Hamburg (HCU), o que permitiu a possibilidade de incluir estudantes alemães. Assim, o grupo de trabalho foi bastante heterogêneo e reuniu estudantes de arquitetura estrangeiros e portugueses, assim como jovens da Faculdade de Belas Artes de Lisboa ou recém-formados em arquitetura e design.
O desafio foi proposto pelo festival de artes performáticas Materiais Diversos, com o objetivo de conceber e construir o novo 'ponto de encontro' do festival, uma estrutura que deveria parecer uma peça simbólica no contexto urbano de Minde e que também deveria funcionar como local de venda de ingressos e livros e para receber conversas, debates e exibições de filmes como parte do programa do evento. Um dos requisitos essenciais era que os elementos da estrutura pudessem ser facilmente desmontados e transportados, já que o festival pretendia utilizá-la em outro lugar e posteriormente oferecer o projeto à comunidade local para sua futura reutilização.
Ao longo das duas semanas do projeto, o trabalho foi estruturado em quatro fases:
1) Análise: houve uma caminhada que teve início no centro de Minde e se estendeu aos arredores com o objetivo de adquirir um conhecimento mais profundo do local. Esta experiência foi complementada por uma série de palestras realizadas por moradores locais através das quais foi possível conhecer o contexto histórico e geográfico em que o trabalho se realizaria.
2) Concepção e Projeto: foi apresentado um sistema estrutural básico e sistemático com o uso dos materiais disponíveis sobre os quais os trabalhos seriam realizados. Os estudantes foram divididos em 3 pequenos grupos, a fim de explorar diferentes abordagens para uma maior discussão e análise. Modelos em pequena escala foram criados para o estudo das relações urbanas e modelos em grande escala foram construídos também para estudar o sistema construtivo e o resultado espacial. Ao mesmo tempo, o grupo produziu os primeiros testes em escala real dos detalhes construtivos com o objetivo de compreender as limitações da execução. Após dois dias úteis, as diferentes soluções foram apresentadas. As vantagens e desvantagens de cada abordagem foram discutidas e a proposta que parecia ser a mais apropriada para o contexto foi escolhida, incorporando, no entanto, alguns aspectos das outras soluções. O primeiro protótipo em escala real de um fragmento do projeto foi desenvolvido e, como conclusão desta fase, os estudantes apresentaram oficialmente seus resultados ao comitê de monitoramento externo. Esses resultados introduziram novas questões para reflexão nas etapas seguintes: Ficou claro que a solução seria utilizar pilares de aço, que lidariam com a pressão estrutural vertical, um conjunto de chapas de compensado pintadas, que serviriam de escora horizontal da estrutura, e alguns elementos têxteis que criariam a marcação de uma área central, um palco ao ar livre para o festival.
3) Planejamento do trabalho: após a decisão do projeto que será implementado, o grupo começou a trabalhar novamente em conjunto para desenvolver a estrutura final integrando alguns dos aspectos discutidos na fase anterior para que o planejamento preciso da execução pudesse ser iniciado. O projeto de execução, com desenhos detalhados e mapas de quantidades, foi preparado. O protótipo também foi objeto de constantes testes durante esses dias para ensaios de materiais e tomada de decisão final, tanto no nível construtivo como espacial, assim como para a busca dos tons apropriados de madeira e tecidos.
4) Construção: Nos dias seguintes, a fase de construção começou. Começaram com trabalhos de preparação, tais como o corte e pintura de madeira e a perfuração de perfis de ferro, seguido da instalação do projeto na Praça Alberto Guedes. Uma inauguração foi feita no início das montagens e todo o processo de construção dos dias seguintes foi assumido como uma performance dentro do contexto do próprio festival. As assembléias aconteceram conforme planejado e, ao final, os estudantes da Faculdade de Belas Artes foram desafiados a criar uma performance intimamente relacionada ao espaço arquitetônico, explorando os ritmos, sons, materiais e qualidades espaciais que resultaram deste processo.
O projeto desenvolvido é simultaneamente uma solução genérica e específica, pois por um lado é uma peça auto-referencial que utiliza a linguagem disciplinar da arquitetura e, por outro lado, estabelece relações muito evidentes com o contexto em que foi criada: a criação de um espaço central abre a possibilidade de um novo palco aberto para o festival Materiais Diversos; a multiplicação dos pilares gera uma relação muito forte com a floresta do território circundante; a coloração escura da floresta se refere às marcas que o "mar de Minde" deixa nas árvores submersas, as diferentes alturas da estrutura, que se eleva no centro, estabelece um diálogo com a topografia acentuada das montanhas que circundam e cercam este lugar; e, finalmente, os tecidos foram tingidos à mão como referência à indústria têxtil, uma vez que ela era a mais importante fonte de renda da região (que hoje quase desapareceu). O projeto, portanto, também ressoa com a história do armazém industrial onde se realizou a oficina, pois foi justamente lá que todo o processo de tingimento dos tecidos foi feito no passado.
O laboratório confirmou que a integração metodológica e intensiva de certos aspectos como a análise, projeto, construção e experiência espacial são capazes de produzir uma forma de conhecimento prático que se aproxima bastante de um processo arquitetônico convencional em um curto período de tempo. A estrutura correspondeu ao desafio lançado pela organização. Finalmente, foi desenvolvido um manual de construção do projeto, que demonstrou o resultado final do trabalho em Minde, mas também as diferentes possibilidades que o sistema estrutural permite, para usos futuros.