-
Arquitetos: Cité Arquitetura
- Área: 1991 m²
- Ano: 2021
-
Fotografias:Daniele Leite
Descrição enviada pela equipe de projeto. A concepção do edifício Bossa 107 surge como reposta ao próprio entorno que o abraça, no bairro de Ipanema. Localizado na Rua Barão da Torre, 107, o edifício está em meio às ruas que povoaram o imaginário da bossa nova, um dos movimentos culturais símbolo do Brasil, assim como em uma das regiões de vida urbana mais pulsante na cidade do Rio, seja na orla da praia ou na boemia dos bares e restaurantes. Esse contexto que mescla a leveza musical e da paisagem natural carioca com a agitação de uma das maiores metrópoles brasileiras se traduz através das camadas arquitetônicas existentes no projeto.
Em um lote de meio de quadra, a relação com a rua e com os vizinhos foi preponderante. Ao pensar a volumetria do edifício, junto à tipologia studio dos apartamentos, dois fatores foram essenciais. O primeiro foi a relação com o exterior, de forma a aumentar a sensação de amplitude e o conforto térmico nas unidades, e o segundo foi possibilitar a troca visual com a copa das árvores no entorno, presentes na vila vizinha ao projeto e na calçada em frente.
A solução encontrada foi criar prismas diversos a partir de uma bossa que desloca entre si as unidades e suas varandas, garantindo a constante presença do verde e a relação com a rua tanto para unidades de frente quanto de fundos. Assim, ao invés de contar um samba de uma nota só com um bloco construído monolítico, projetou-se um espaço com múltiplas espacialidades para as múltiplas personalidades de seus futuros moradores. Desta forma tornou-se possível a entrada de luz natural e inserção de paisagismo na circulação comum do edifício e a garantia de mais claridade e ventilação nas 8 unidades por pavimento em um terreno estreito de 480m².
Para além de sua implantação e volumetria, o Bossa toma toma partido do diálogo com seu entorno imediato também na distribuição de seu programa e na estética definida para seus revestimentos e interiores. O edifício responde às novas demandas do habitar contemporâneo trazendo outra maneira de morar alinhada com espaços coletivos de convívio e serviço.
No pavimento térreo, o ambiente de convívio, pensado para receber amigos e familiares com espaço de estar e cozinha completa, é desenhado junto à rua, incluindo uma varanda que se abre para a calçada. A extensão do dia-a-dia dos moradores para a cidade se relaciona à memória dos bares e cafeterias comuns no bairro, ou até mesmo com os tempos das casas de rua que ali já existiram antes da verticalização de Ipanema. A escolha pelos tons de cinza nasce dessa vontade de trazer a rua para dentro, tomando os tons das pedras-portuguesas da calçada como ponto de partida, contrastando com texturas naturais e cores terrosas mais intensas do mobiliário, garantindo aconchego e atualidade. O mesmo tratamento de cores e texturas segue ao longo do edifício, seja nos corredores ou no terraço de uso comum, garantindo destaque para o paisagismo, presente ao longo de todo o projeto a partir de dois jardins verticais que o abraçam.
A diversidade de usos dispostos nos ambientes busca a polivalência e fluidez, tão fortes nas unidades studio. No espaço de chegada, contíguo ao ambiente de convívio do térreo, o desenho de uma grande cortina como divisória entre a portaria e o ambiente de estar é símbolo disso.
Por fim, Ipanema traz em sua memória o legado das personalidades que apresentaram esse canto do Rio para o mundo: figura nas charges bem humoradas de Millôr Fernandes, exala a poesia de Vinícius de Moraes e emana a bossa de Tom Jobim. Por essa razão, o ritmo das pautas musicais, como na música Aula de Piano de Vinícius, inspira o desenho das fachadas, com traços horizontais e curvas como nas notas de uma canção. A partir desse traçado, a escolha dos materiais, entre os tons de cinza em meio às árvores e paredes verdes, traz a ambiência urbana contemporânea ao projeto, condizendo com o principal perfil esperado de moradores: os jovens.
Convergindo tais conceitos formais e estéticos, se destacam como forças projetuais do Bossa 107 o ritmo, a cadência, a elegância e a contemporaneidade, que se materializam e dão forma a um novo edifício cheio de graça, tanto na arquitetura como também nos interiores, trazendo um doce balanço à forma de habitar.