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Arquitetos: Ana Costa, arquitectura e design Ida
- Área: 5831 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Josefa Searle, Cottinelli
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Fabricantes: Daciano da Costa, Larus, Viúva Lamego
“Construída sobre o terreiro do cais, colada ao tecido urbano pombalino tão fortemente estruturado e caracterizado, a estação devia constituir, no entanto, um edifício isolado, sem uma articulação física com essa envolvente. A carga histórica do local reforçava o significado de que a função se revestia, porta de passagem entre a cidade e o rio, um local de partida de navegações, de partida para o além-Tejo.
Como se sublinhava também, “merec[era] especial atenção a solução do problema relativamente delicado do aspecto a dar ás fachadas, dêste edifício em situação muito especial, dada a sua proximidade do Terreiro do Paço”. Para Cottinelli Telmo, “o edificio ter[ia] esse carácter moderno em que, banida tôda a decoração sentimental e inutil, fica quasi apenas um jogo de volumes e de lisos em que falam principalmente a lógica de construção e as proporções”. A nova estação devia evidenciar a natureza da sua construção, exprimir a sua função e a sua época. Cottinelli considerava que a “melhor maneira de fazer realçar as belezas do Terreiro do Paço [seria] por contraste e não por concorrência”.
O volume com uma absoluta elementaridade, definia um espaço amplo, permitindo a passagem entre o cais de embarque e a cidade, dando acesso às diversas funções a cumprir - salas de espera, compra de bilhetes, despacho de bagagens - instaladas em cabines isoladas no seu interior, ou nos volumes anexos, a um e outro lado. A rigorosa modulação da estrutura de betão, os grossos pilares e as pilastras que lhes correspondiam, as vigas que suportavam a cobertura em retículas sobrepostas, determinavam os ritmos e os motivos fundamentais de animação do espaço.
Empregando um recurso formal típico das Art Déco, as superfícies eram animadas ritmicamente de modo abstracto, em planos escalonados que sublinhavam as direcções fundamentais - horizontais e verticais - e as curvas dos grandes vãos. Os lampiões geométricos, colocados sobre os coroamentos em pirâmide do corpo principal, constituiam uma afirmação de urbanidade. Em contraste, os acabamentos interiores recebiam a aplicação de materiais nobres. Grandes placas de mármore em cores e texturas contrastantes e as grades metálicas de desenho ornamental geométrico asseguravam um efeito decorativo, de um luxo moderno e sóbrio.” - Martins, João Paulo - Cottinelli Telmo, A Obra do Arquitecto (1897-1948).
A Associação de Turismo de Lisboa teve como principal objectivo programático repor a função original de estação fluvial.
A intervenção foi pautada por princípios de conservação, restauro e reinterpretação dos elementos caracterizadores do projecto original de 1928-32.
Dos espaços e elementos emblemáticos, que se conservaram e restauraram, salientamos: as pedras naturais de revestimento dos pavimentos e dos paramentos; do átrio principal; o jogo moderno de elementos compositivos em arestas vivas de reboco nas fachadas; as palas norte e sul em betão, ferro e vidro; os vãos exteriores, em ferro pintado e vidro; e os painéis azulejares pertencentes ao átrio principal e antigas salas de embarque.
Com a equipa A2P – Estudos e Projectos, foi desenvolvida uma solução de reforço estrutural para melhoramento do desempenho anti-sísmico, que preservasse as características patrimoniais.