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Arquitetos: Rubén Muñoz
- Área: 186 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Rubén Muñoz
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Fabricantes: Quimica Universal
"Para nossos avós, uma torre familiar, uma moradia, uma fonte, até suas próprias roupas, seu manto, eram infinitamente familiares; cada detalhe era como se fosse um baú no qual eles encontravam a humanidade e somavam suas economias humanas. Eis que coisas indiferentes correm em nossa direção, aparências, armadilhas, nada em comum com a moradia dos nossos avós... Coisas dotadas de vida, coisas vividas, as coisas admitidas à nossa confiança estão em declínio e não podem mais ser substituídas. Somos talvez os últimos que sabem disso. A responsabilidade de preservar não apenas sua memória, mas seu valor humano e lírico recai sobre nós." Rainer Maria Rilke.
Esta casa só quer ser uma casa e nada mais. Gostaria de passar despercebida, voltar a um "grau zero" aproximando-se das construções anônimas de madeira do sul do Chile, rumo a "uma arquitetura humilde". Esta casa só tenta uma coisa, reconstruir os imaginários da memória dos seus habitantes: um celeiro onde o tempo da infância passou sem pressa; uma meia-água de madeira arruinada que já foi uma leiteria; um corredor onde se pode apreciar a passagem das estações; uma tentativa de aproximação entre natureza e artificial, quase incestuosa, como na obra de Arnold Böcklin.
Um refúgio que transforma a paisagem natural em paisagem interior. Não apenas como um recorte medido e delimitado, mas também como claraboia e como um pequeno pátio onde a chuva cairá. Seus limites são um corredor aberto a uma colina suave que desce em uma planície, em direção a uma pequena floresta nativa, e uma galeria interior com luz zenital, que servirá como sala de exposições de obras de arte.
O projeto propõe uma resposta contemporânea à habitação em um contexto semi-rural, com o menor impacto ecológico possível na sua construção. O estado natural da paisagem é preservado, evitando intervir na topografia e preservando a vegetação nativa. São aplicados critérios de sustentabilidade que tendem à autonomia individual e comunitária. A água potável é captada nas nascentes e tratada coletivamente. Os sistemas de esgoto são autônomos. A energia elétrica é produzida por painéis solares.
Construída por um mestre carpinteiro local, esta construção austera é estruturada por esquadrias e treliças de madeira de pinus. Como estratégia bioclimática, juntamente com a proteção por meio de um corredor ao norte, tanto das copiosas chuvas locais quanto do sol direto, foi contemplada a ventilação passiva, bem como uma divisória perimetral ventilada, revestida com madeira por dentro e por fora. No interior, as variações da luz natural são refletidas nas tábuas de pinus do deck vertical tingido de branco, valorizando os gestos e objetos cotidianos da vida doméstica. Do lado de fora, as tábuas são empilhadas horizontalmente, a madeira é preta, desgastada, antiga.