-
Arquitetos: Hiroshi Nakamura & NAP
- Área: 318 m²
- Ano: 2020
-
Fotografias:Koji Fujii / TOREAL
Descrição enviada pela equipe de projeto. Este centro de acolhimento recebe crianças com doenças intratáveis e suas famílias que têm dificuldades em viajar, ajudando-as a recarregar suas energias. Como muitas famílias virão preparadas para que esta possa ser sua última viagem juntas, o cliente “Dream for Children with Intractable Diseases and Their Families”, desejava um lugar onde as crianças pudessem ser crianças e os pais fossem pais em vez de uma instalação austera que trata as crianças como pacientes e aprofunda a conexão familiar através da experiência de viagem. Caso a criança venha a falecer, será um lugar onde a família poderá revisitar e passar um tempo em silêncio para relembrar os momentos importantes. Também foi solicitado que fosse um lugar para educar as pessoas, instigando compaixão e bondade.
O oceano é visível desde o segundo andar, mas o cliente desejava uma edificação de um andar cercada por vegetação, como é típico em Okinawa, onde as famílias e os funcionários pudessem transitar enquanto estão cientes da presença uns dos outros.
Ao projetar, imaginamos nos aninhar perto dos corpos de crianças acamadas que olham para um teto ou janela o dia todo. Levando em consideração o nível dos olhos e o tamanho do corpo, posicionamos portas de correr de vidro para que pudessem desfrutar da paisagem externa e do vento mesmo deitadas de lado, com entradas, tetos baixos e chaminés de vento de 8 metros de altura, com cerca de 1,8 metros de diâmetro e uma claraboia no topo que pode ser vista mesmo se criança estiver deitada de costas. As chaminés de vento absorvem a brisa do oceano durante o dia, enquanto absorvem o ar fresco do jardim ao norte, criando ventilação natural.
Para crianças com deficiências físicas, o vento traz muitas informações; A brisa do mar que sopra nos pinheiros, o canto dos insetos e pássaros, a fragrância das flores e o cheiro úmido da maré e da chuva. Imaginamos que esse “cenário de vento” (em japonês, a palavra “vento” consiste em duas letras: vento e cenário) conectaria as crianças ao ambiente de Okinawa. A planta tem uma forma circular que se abre igualmente para o entorno, com todos os cômodos voltados para o exterior. O banheiro comum e a área de estar-jantar-cozinha, onde as pessoas se reúnem, se abrem para o jardim com muita luz natural, enquanto os quatro quartos compactos são um pouco mais escuros e silenciosos para as crianças descansarem.
Estudamos as estatísticas da direção do vento pela Agência Meteorológica do Japão e posicionamos estrategicamente o pátio com espelho d'água. Com isso, um vento frio sopra através da água no centro, induzido pela diferença de temperatura com a extremidade do pátio. A chuva e o vento entram pela claraboia sem vidro, e a iluminação do sol e das nuvens transitam momento a momento neste espaço introspectivo. Ao sentar-se em um banco ao longo da parede deste salão tranquilo, a luz se derrama pela claraboia e reflete na água, criando ondulações no teto que estremecem como uma chama. Chamamos esse efeito de de “chama acesa no coração” e o entendemos como um encorajamento para as famílias.
Do banco redondo no centro do jardim da cobertura, há uma vista panorâmica de 360 graus do oceano azul, da cidade e dos canaviais. No pátio e no jardim da cobertura, criamos formas que contrastam com o restante dos espaços.
As escadas ao ar livre são projetadas para tornar mais fácil para funcionários e pais apoiarem uma cadeira de rodas de ambos os lados. Escadas que geralmente são consideradas uma barreira foram vistas como algo positivo desencadeando compaixão e memórias. Isso se baseia na filosofia do cliente que afirmou: “desenhos sem barreiras protegem sua liberdade e dignidade, mas não podemos eliminar todas elas. Em vez disso, o que é necessário é perceber que as barreiras físicas e mentais existem para todos nós e entendê-las faz com que nos ajudemos mutuamente. As barreiras que levam a isso são boas e podem estar aqui.” Os espaços projetados para o nível dos olhos e pequenos corpos das crianças, conforme descrito acima, podem ser inconvenientes e às vezes se tornarem barreiras para pessoas sem deficiência, por exemplo.
Como o lugar também serve para educar os fisicamente aptos, experimentamos essa abordagem com a crença de que imaginar e fundir-se com a fisicalidade dos outros serviria como base para uma sociedade sem barreiras. Por meio dessa “prática de comportamento”, pretendemos que esse local cuide da própria sociedade da qual fazemos parte.