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Arquitetos: Yuri Nobre Arquitetura & Urbanismo
- Área: 26877 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Felipe Petrovsky
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Fabricantes: Ambientar CE, Cores do Brasil, FCK Pré-Moldados e Construções
Descrição enviada pela equipe de projeto. A intervenção apresenta a requalificação de espaços públicos com o objetivo de torná-los convidativos e firmarem um parque urbano contemporâneo, mas de caráter patrimonial no Centro da cidade, com ênfase especial na dimensão social e na memória do lugar, popularmente conhecido como Parque das Crianças. Isso, somado a matéria lúdica como atrativo para os usuários, em especial na infância, público de relação histórica com o lugar.
O partido de intervenção para o projeto patrimonial, um espaço público datado de 1890, inaugurado formalmente em 1902 e tombado pelo município em 1991, foi baseado nas circunstâncias particulares do lugar, em um resgate da memória afetiva local na qual emergem as relações entre o espaço público, a infância e a nostalgia. Estabeleceu-se uma leitura espacial fundamentada em seus diferentes momentos e contextos históricos, sem uma hierarquia ou modelo ideal em relação à pátina do tempo do local, mas com foco no simbolismo daquele espaço.
Na busca de comunicá-lo em um complexo urbano capaz de potencializar o existente e, ao mesmo tempo, preservar a memória do passado, possibilitando um espaço flexível que proporciona as múltiplas apropriações e interações, é proposto uma paginação orgânica de piso, possibilitando um percurso exploratório, complementado por módulos de placas de concreto drenante de até 90% de permeabilidade.
O percurso formula-se com base aplicada na Teoria das Inteligências Múltiplas (1983), de Howard Gardner (1943-), como norteadora do partido arquitetônico para a realização em espaço físico, distribuído ao longo do parque e setorizado em sete ilhas pedagógicas interligadas, nas quais existem equipamentos para atividades cognitivas e estímulos sensoriais, sendo eles de inteligência Musical, Lógica, Espacial, Interpessoal, Linguística, Intrapessoal e Motora, numa abordagem educacional construtivista e baseada no interacionismo de Jean Piaget, fazendo do caminho o rumo do aprendizado através da interação entre o indivíduo e os objetos arquitetônicos, planejados de forma a atender cognitivamente a seus respectivos temas, mas mantendo a coerência e sensibilidade no tratamento da memória visual do espaço tombado.
Durante o percurso, o usuário encontra um paisagismo contemplativo, em sinergia com intervenções patrimoniais que visam a valorização do lugar. Foi realizado o restauro de elementos patrimoniais com técnicas que variam de acordo com o dano sofrido, devidamente classificado e mapeado em projeto, até a validação em prospecção específica. Para elementos perdidos, foi utilizado o conceito de anastilose, por meio de perfis metálicos que criam um exercício de Gestalt do elemento, como foi o caso das “Estátuas dos Deuses” Apolo e Netuno, de registro literário histórico no lugar, mas cujas esculturas originais tiveram destino até então desconhecido, foi criado então o exercício de memória, um estímulo enquanto laboratório de educação patrimonial a céu aberto.
O parque conta com edificações ecléticas históricas que ganharam novos usos e as intervenções, para além do restauro, visaram a requalificação através de ocupações estratégicas como apoio para administração e segurança, bicicletário, cafés e restaurante, usos sugeridos em projeto para dinamizar o fluxo de pessoas e trazer de volta a população a este espaço público de características tão singulares no Centro da Cidade.