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Arquitetos: Merooficina
- Área: 150 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Tiago Casanova
Descrição enviada pela equipe de projeto. A casa da beiramar localiza-se num dos antigos bairros piscatórios de Aveiro, uma paisagem central na cidade, composta por compridas e estreitas casas de pescadores construídas em adobe, cobertas em coloridos azulejos da indústria local e cheias de verdes vasos de flores.
Inserida no bairro da beira-mar, integra uma parte da cidade que tem vindo a assistir a uma interessante mistura entre os antigos moradores e os mais recentes habitantes. Um desses novos habitantes quis recuperar esta casa, prevendo um programa evolutivo: que servisse como dois pequenos apartamentos numa fase inicial, e como apenas uma habitação, com ou sem um escritório independente, num futuro que se deseja próximo.
Entendemos a flexibilidade como uma forma de enriquecer o uso e o envelhecimento dos edifícios - uma questão de adicionar e dispor camadas de possibilidades num local específico, para criar alternativas de ocupação múltiplas e transformadoras.
Usando as duas entradas existentes conseguimos promover esta flexibilidade, enquanto algumas portas interiores se tornaram essenciais para separar os novo usos - de dois apartamentos até uma casa, ou mesmo um novo consultório de psicologia.
A principal intervenção consistiu na remoção dos elementos mal construídos que tinham sido adicionados, e na introdução de dois novos materiais, que realçam a nova organização: a estrutura metálica, que aproveita os antigos apoios de adobe para abrir a fachada de tardoz e os azulejos coloridos - alguns novos, outros antigos - que marcam esta nova vida da antiga construção.
Ao longo da última década, várias construções foram ocupando e descaracterizando um espaço que deverá ter sido um pátio localizado na fachada a sudoeste. De forma a reconstruir este espaço, as construções informais foram demolidas, e foi introduzida uma nova janela de pivot, que permite uma total abertura para este renovado pátio. Este novo espaço entre o interior e o exterior pretende proporcionar distintos rituais quotidianos, como refeições de verão ao ar livre e noites de inverno em torno de uma lareira exterior.
No primeiro piso, numa relação directa com o pátio, foi construída uma varanda envidraçada, usada como local para tomar banho. Uma cortina branca, colocada no centro do espaço que envolve uma banheira antiga, cria um filtro entre a intimidade do momento de banho e a vista desobstruída para a movimentada Rua de São Bartolomeu, numa intervenção que deseja indagar sobre os limites entre um dos momentos mais privados da rotina do dia a dia e a vida pública.
No final, a mistura entre a nova intervenção e a reabilitação do existente é uma combinação líquida entre duas formas de construir: uma mais universal, relacionada com os novos hábitos e as novas exigências de conforto, e outra mais vernacular, relacionada com o contexto, com a construção existente e com a cultura local.