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Arquitetos: Cité Arquitetura, Pontual Arquitetura
- Área: 68362 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Pedro Vannucchi, Daniele Leite
Descrição enviada pela equipe de projeto. O Ícono Parque, conjunto residencial localizado na zona sul do Rio de Janeiro, com arquitetura da Cité Arquitetura + Pontual Arquitetura para a SIG Engenharia e para o grupo Opportunity, é um projeto de uso misto que utiliza o conceito de fachada ativa, fazendo de sua implantação uma grande ativação da quadra em que se encontra, agregando comércio e vida ao bairro do Flamengo.
O andar à pé na região em que se encontra é cotidiano devido à grande diversidade de serviços e lojas. Por isso, o projeto buscou favorecer esse hábito e, mais ainda, estimular a vida urbana nas ruas imediatas ao edifício.
A implantação da arquitetura foi pensada de modo a espraiar a volumetria, tornando-a respeitosa ao entorno e criando momentos de acolhida ao pedestre. Em relação ao volume construído, o projeto buscou se inserir com uma presença discreta, mas transformadora na quadra, trazendo comércio, com implementação da fachada ativa, e arte, com o painel assinado pelo artista urbano Marcelo Lamarca que relembra aos grafites sobre o antigo muro do terreno vazio que ali antes existia.
O programa misto contempla as torres residenciais multifamiliar, com unidades de dois e três quartos, e comercial, com criação de uma galeria de lojas de variados tamanhos no térreo. A implantação das torres visa amplitude de vista para os apartamentos, levando em consideração a possibilidade de visadas para o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, a diminuição do adensamento da quadra e, além disso, possibilita a criação de um grande parque no centro do terreno, com diversos usos comuns para os moradores.
Inspirando-se nas marcantes esquinas do bairro, sobretudo da rua Paissandu e da Praia do Flamengo com edifícios como o Tabor e Loreto, os recuos das entradas das torres no embasamento recebem especial atenção. Com acabamentos claros e calmos que determinam uma mudança de ritmo para quem entra no edifício, as esquinas do Ícono mostram-se como um acontecimento urbano, com inserções de paisagismo como a praça junto ao edifício histórico do IAB-RJ e a manutenção de uma palmeira-imperial preexistente no terreno na rua Machado de Assis. Grandes panos de vidro transformam a iluminação de seus interiores em uma lanterna urbana à noite e, durante o dia, criam uma surpresa ao para quem passa.
Em termos urbanos, o uso do conceito de quadra aberta, canonizado na arquitetura por Christian de Portzamparc, ocorre no embasamento com o desenho de uma galeria de lojas que movimenta a economia e o cotidiano do bairro, além de relembrar ícones do entorno, como a Galeria Condor, no Largo do Machado.
A mesma atitude generosa ao rés do chão repete-se na altura da copa das árvores. Tomando como base a ideia de parque urbano, o embasamento mistura um paisagismo generoso com o painel artístico, para enfatizar a atmosfera de bem-estar. Cria-se, assim, um passeio agradável e vivo para o pedestre, com uma vegetação pendente em toda a volta, e um espaço de lazer arborizado para moradores no PUC. Além disso, a estratégia da vegetação gera um amortecimento do barulho e do movimento da cidade para quem está no PUC e nos edifícios.
Nas torres, tendo a arquitetura carioca presente na região como inspiração, com projetos como Parque Guinle e Biarritz, a natureza do projeto é destacar-se pelos detalhes e, sobretudo, pelo seu respeito e acréscimo de valor ao entorno. O contraste cromático de tons de branco e cinza cria a maior sensação de amplidão entre os edifícios enquanto o desenho das linhas de viga por vezes mais longas e bem delineadas torna a construção visualmente mais leve.
Predomina o uso de revestimento cerâmico (Cerâmica Portobello Linha Arquiteto Urbano Neve) e massa texturizada (Massa texturizada Ibratin Pingato Duo Stuttgat Máximo), estabelecendo uma mescla de cinzas e brancos que, junto às esquadrias (Olgacolor Pintura Eletrostática Cinza) com vidros incolor, faz do volume construído mais discreto, pondo atenção aos detalhes volumétricos da fachada e à arte do painel de embasamento.
No térreo, as entradas recuadas abrigam um paisagismo junto à rua e criam um pano de fundo em tons claros de cinza com uso do Porcelanato Portobello Concretíssima Matiz Grigio, que aumenta o destaque dos seus grandes panos de vidro com especial valor à iluminação dos interiores. O painel de grafiti de Lamarca estabelece o ponto de cor no projeto e uma curiosidade para o pedestre ao recobrir o embasamento revestido pelo Quadrobrise Hunter Douglas XL200 Branco.
A principal dificuldade projetual foi garantir a densidade construtiva de forma que não se tornasse impositiva à rua. A implantação de um embasamento ativo e do parque central, recuos na fachada e no posicionamento dos edifícios em relação ao limite do terreno e o uso de cores claras e cinzas que se mesclam e contrastam entre si e com o verde da vegetação e matizes do céu foram recursos implementados para solucionar essa questão.
Dos diferenciais de projeto, destacam-se dois elementos. O primeiro é a ativação da quadra em que se encontra. As ruas Dois de Dezembro e Machado de Assis conviveram por anos com um imenso terreno vazio e murado, tornando-as menos aprazíveis e com uma aparência de maior insegurança. Os novos edifícios com diversas lojas no térreo trouxeram vida à rua, com mercados, lojinhas e restaurantes, transformando e qualificando o espaço urbano.
O segundo diferencial diz respeito ao mercado residencial na Zona Sul do Rio. A localização a poucos minutos do Centro da cidade e a alguns passos de distância do Aterro do Flamengo, um dos mais emblemáticos parques urbanos do mundo, e do Largo do Machado, importante centro de comércio e transporte, é um atrativo, sem dúvida. Porém, o que torna o Icono especial em relação a outros empreendimentos na região é a conjugação de sua localização com toda a infraestrutura de condomínio com serviços e lazer ao morador. A qualidade de poder estar ao ar livre e a praticidade dos espaços de convivência, tão associadas às regiões de expansão da cidade, agora são uma realidade nas proximidades do Centro e em um dos bairros mais tradicionais da Zona Sul carioca.
Inclusive, tal qualidade de vida traduz-se no desenho com a implantação das torres no terreno gerando um constante contato entre os espaços internos e externos, tanto nos ambientes de uso comum cercados pelo paisagismo quanto nos apartamentos com grandes panos de vidro e varandas espaçosas. Essa troca com o ar livre, reforçada pelo parque central, aumenta a sensação de bem-estar dos moradores e é incomum em uma região tão densa da cidade. O desenho de arquitetura garantiu a constante ventilação cruzada nos espaços de convívio assim como a presença de luz natural ao longo do dia em todos os ambientes comuns e privativos.
Por fim, o paisagismo pensado para esse projeto pensa, acima de tudo, no convívio. Associar espaços variados de lazer com uma diversidade paisagística nortearam a proposta. Poder descansar, brincar ou estar entre amigos em meio ao verde foram o principal objetivo e agregam ao diferencial do projeto em relação ao mercado da Zona Sul do Rio. Um dos pontos principais em que isso torna-se evidente está no espaço de convívio com churrasqueiras, que se debruça sobre a rua em uma das pontas do terreno, entremeando a paisagem urbana do entorno ao verde e ao lazer, como uma arquibancada para a cidade.