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Arquitetos: Ricardo Abreu Arquitetos
- Área: 687 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Renato Navarro
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Fabricantes: Ambiente Padrão, Ateliê Pedras Preciosas, Bertolucci, Bizzarri Pedras, Boobam, Breton, By Kamy, Construflama, Coral, Deca, Diageo, Enjoy House, Guardian, InterLight, Jualiana Pelegrinello, LG, Laminatto, Lepri Cerâmicas, Llum Iluminação, Maison de la musique, +5
Descrição enviada pela equipe de projeto. Seguindo uma narrativa sobre a ação do tempo e seus feitos, o arquiteto propõe uma reflexão a respeito das possibilidades entre a preexistência do espaço vazio e desocupado, e a introdução da contemporaneidade formal e tecnológica. O passado histórico é respeitado e incrementado com as necessidades do presente, ou seja, o passado permanece vivo e um único elemento que age a favor do tempo é celebrado: a natureza.
O Restaurante 00:00 é apresentado em parceria com o restaurante MYK, sob o comando da chef Mariana Fonseca, responsável por trazer uma culinária grega contemporânea. Através do grande salão branco de 582m2, o visitante é convidado a percorrer 41 ilhas e canteiros vegetais entre mesas feitas em porcelanato especialmente para o espaço - uma referência às Cyclades grega, um grupo de ilhas ao norte do mar Egeu à volta da ilha sagrada de Delos. Como em um verdadeiro labirinto, quem entra no local se vê instigado a desvendar o projeto, que se revela a cada passo.
Definido como uma grande experiência arquitetônica e histórica, o ambiente de Ricardo traz uma verdadeira imersão completa de linhas orgânicas entre tetos, pisos e elementos construídos, onde a vegetação se destaca. As 25 ilhas são invadidas por herbáceas, folhagens ornamentais, arbustos e espécies parasitas, onde o olhar estético é despertado para o principal elemento que sinaliza a vida naquele espaço abandonado: a natureza. O desenho biofílico incorpora as características do mundo natural e conecta o homem ao meio construído.
A argila é a principal fonte da matéria-prima dos revestimentos. Há uma utilização abundante de cerâmicas desbotadas e envelhecidas revestindo as ilhas, bem como nos pisos e paredes. O exagero na combinação de texturas dos diversos materiais utilizados reproduz, metaforicamente, as diversas camadas históricas que o espaço acumulou ao longo do tempo. E no meio desta interação de boiseries e tecidos aplicados, tetos sinuosos ou abobadados, as paredes quebradas ressaltam como verdadeiras cicatrizes.
Um dos grandes destaques do projeto está na coleção Tapetes Urbanos que a By Kamy Verde lança nesta edição de CASACOR em parceria com o escritório Ricardo Abreu Arquitetos. Com desenhos autorais, os tapetes são reproduzidos em recortes emblemáticos da cidade de São Paulo, que já tiveram projetos paisagísticos pensados para devolver o verde à cidade, mas que não foram concretizados. São peças com traçados preenchidos por cores de folhagens, flores e sementes de espécies tropicais, com texturas das diversas técnicas empregadas na tapeçaria, somados ao colorido de ipês amarelos, magnólias e jatobás. Como resultado vê-se uma imersão na riqueza vegetal e arquitetônica da cidade. Os tapetes estão presentes nos três lounges do ambiente. Assim que o visitante adentra ao restaurante, o destaque está para a tapeçaria “nova paulista”. O “minhocão” e o “marginal” completam os outros dois lounges, revelando paisagens da metrópole.
A iluminação foi pensada para valorizar a vegetação, com foco na grande variedade de marantas, capins, dracenas e lambaris, que com suas folhagens avermelhadas, ressaltam no ambiente predominantemente branco. As luminárias da linha Pencas (mesa, piso e pendentes), da Bertolucci, dão o toque final. Dando continuidade à apropriação do espaço abandonado, a presença de um grande morro faz referência a um desmoronamento de terra úmida, fonte primordial para permitir o crescimento de musgos. Deste morro nasce o bar do restaurante, o ponto alto do projeto. O contraste das pedras in natura com o trabalho lapidado do quartzito polido percorre todo o balcão. Posicionado no eixo central, o bar permite a interação com todo o restaurante e com uma cozinha funcional que ocupa a grande península. Os cactos candelabro posicionados no teto despertam o olhar para esta espécie suculenta, o verdadeiro símbolo da resistência. Completando o mote abordado no projeto, nos lounges, temos uma parede com aplicação gráfica da juliana Pelegrinello, em um tecido desbotado de verde que permeia até o teto.
Próximo ao bar, a história do projeto é contada por outras lentes e transmitida na tv para os convidados. Na extremidade oposta, o visitante é chamado a desvendar uma grande praça circular. Ali, a arquitetura parece querer tocar a natureza invasora. E como resultado, vê-se uma grande ampulheta, sinalizando a passagem do tempo.