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Arquitetos: OMCM arquitectos
- Área: 252 m²
- Ano: 2022
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Fabricantes: Aciron Metales, AutoDesk, Deca, Docol, FV, Guazukol, Irene Industrial y Comercial, Klaukol, Mateco, PisoForte, Sika, Tramontina, Trimble Navigation, Votomasa
Descrição enviada pela equipe de projeto. Este projeto consiste na reabilitação de uma casa familiar humilde e degradada, com mais de 30 anos, cuja qualidade construtiva e espacial foi comprometida pela passagem do tempo. Além disso, a edificação contrariava as exigências contemporâneas de funcionalidade e conforto solicitadas pelo cliente na primeira visita. Desde o início, o projeto apresentou diversos desafios orçamentários, técnicos e conotativos pois, além de solucionar vazamentos, umidade, subsidência de pisos, rachaduras e fechamentos mal dispostos dentro de um custo razoável, tivemos que considerar o ingrediente especial: os usuários da casa que são uma pessoa cega e sua mãe idosa. Essa condicionante nos obrigava a utilizar critérios de acessibilidade, luminosidade, fluidez espacial, manejo adequado de cores, texturas, etc.
Costuma-se dizer que cada reforma é uma caixa de pandora... Maior ou menor, a caixa sempre oferece surpresas que, para os arquitetos, são oportunidades de explorar soluções baseadas na lógica criativa e material, utilizando técnicas de reciclagem, adaptação e resiliência. Como primeira medida, procuramos desobstruir o espaço social através da demolição de divisórias desnecessárias. Esta ação nos permitiu criar amplitude, bem como maior luminosidade no interior do recinto, o que é essencial para a percepção de um cego que, em certos casos, tem a capacidade de diferenciar com maior ou menor dificuldade, os contrastes e opacidades entre luz e sombra.
Prosseguindo com a intervenção, encontramos as madeiras da cobertura completamente apodrecidas no encontro com as paredes perimetrais, o que deu origem a uma solução estrutural arrojada, embora simples e eficaz. Em vez de substituir completamente a sustentação (implicando um grande custo), as extremidades foram deliberadamente cortadas para separá-las do suporte óbvio (parede-teto) e dramatizar esse encontro. Como? Levantando a cobertura e dispondo 4 perfis IPN transversalmente espaçados de acordo com o comprimento das contra vigas recuperadas da demolição. Dessa forma, distribuiu-se as cargas pontuais para algumas vigas de concreto armado inseridas nas paredes que, por sua vez, absorvem os esforços cortantes e aliviam o trabalho de uma alvenaria fragilizada pela sua própria composição e pela passagem do tempo.
Por outro lado, as aberturas de madeira são recicladas, restauradas e reaproveitadas. As persianas e janelas tradicionais são rotacionadas 90 graus para se tornarem painéis pivotantes horizontal ou verticalmente de acordo com a conveniência dos espaços e sua função de ventilação ou circulação. Esta operação conferiu originalidade à casa sem a necessidade de "descartar para comprar algo novo". Quanto ao piso, também reciclado em alguns setores, é incorporado um elemento principal, um caminho guia feito de tijolos comuns que, devido à sua rugosidade em contraste com o piso cerâmico geral, facilita a leitura dos eixos principais da casa.
Por fim, e sempre dentro da linha da reciclagem como ferramenta criativa e orçamentária, os obsoletos revestimentos cerâmicos foram entrelaçados para seu uso coloquial criando elementos que resolvem a privacidade solicitada em relação à via pública e ao espaço de serviço dentro da casa. Como resultado, criou-se uma residência contemporânea de baixo orçamento, adaptada às necessidades de uma família especial, onde a luz, a ventilação natural e a honestidade no uso dos materiais são evidentes para o usufruto diário.