O que pode o vazio? Para o arquiteto Carlos M. Teixeira, um campo de estudo, trabalho e fascínio sobre o qual se debruça há mais de duas décadas. Esse olhar sensível para as possibilidades do não construído originou o livro “Em obras: história do Vazio em Belo Horizonte”, cuja segunda edição, revisada e ampliada, chega às lojas pela Romano Guerra Editora, com lançamento dia 13 de agosto, às 10h30, na Livraria da Rua, na capital mineira. Na publicação, ele propõe uma nova abordagem sobre as cidades, com foco não nas construções, mas nos espaços em potencial para se pensar outras formas de relação das pessoas com a urbe, compreendendo o espaço público como campo de transformação social.
Lançado originalmente em 1999, o livro trazia uma abordagem nova sobre as cidades, resultado do período de estudos de Carlos M. Teixeira na Architectural Association, escola progressista de Londres. Muito ligado à fotografia, ele começou a observar o interesse dos fotógrafos-artistas em registrar e descrever as transformações das grandes cidades - e como, por meio da fotografia, era possível também evidenciar a beleza e a multiplicidade de caminhos existentes nos vazios (cada vez mais raros) desses locais.
“Tudo o que não é arquitetura, que é espaço público, que acontece entre dois ou vários prédios tem uma importância e potência que nem sempre é considerada pelos próprios arquitetos, mas que deveria ser alvo de atenção. O livro é um apanhado de Belo Horizonte, não focado nas construções, mas nos vazios -- inclusive porque, como primeira cidade planejada do Brasil (foi inaugurada em 1897), ela era só vazios quando foi fundada, pois ali existia apenas uma pequena vila (Curral del Rei)”, explica o autor.
Ao longo do livro, que conta com prefácios de Jacques Leenhardt (IMS) e Rita Velloso (UFMG), Carlos analisa como a força dos vazios, prevista no projeto original de Belo Horizonte, que afirmava a importância deles para a cidade, foi sendo invadida por construções arquitetônicas. Os descaminhos do crescimento desordenado desconfiguraram a capital e fizeram com que muitos de seus moradores hoje desconheçam que Belo Horizonte foi planejada. Estes descaminhos são também reflexos da forma como o urbanismo é visto e praticado no Brasil.
Em capítulos incisivos como lâminas, Em Obras opera cortes radicais no tempo, passando em revista as inúmeras tentativas de ordenação da capital mineira.
“Do cartão-postal” discute a relação entre imagem e memória das cidades. Entrelaçando história do urbanismo e da fotografia, a visão de BH é ditada pelos fotógrafos da cidade moderna, agentes culturais que buscavam fazer cartões-postais da jovem capital que, no início de sua história, era um mar de vazios urbanos.
“Urbana e suburbana” descrevem o plano urbano de Aarão Reis para depois exaltar a zona suburbana de Belo Horizonte, a zona que melhor representa a cidade, que “consome coisas” e que “devorou a Zona Urbana” – para usar as considerações destruidoras-construtivas que o modernista Oswald de Andrade fez em sua profética visita a capital.
“Liberdade, ela é o vazio” propõe os vazios urbanos, a improvisação, o dispêndio, as festas e os jogos como algo fundamental em uma cidade que já foi só “vazios”, passou a ser só “cheios” e que, ironicamente, poucas vezes conseguiu se expressar pelos cheios.
O último capítulo são “Projetos” que propõem soluções e curtos-circuitos na cidade. Serra do Curral propõe a conversão de sua área minerada em um gigantesco parque em meio à paisagem violenta feita de curvas escalonadas de minério de ferro. Tumor benigno, proposta mais radical, é uma vingança da natureza que reocupa todo o centro, fazendo da zona urbana um imenso parque municipal. E, por fim, o Teatro dos vazios prega um toque de saída conclamando todos à ocupação dos poucos vazios que restam na cidade para, assim, “gerar energias positivas e negativas”.
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Título
Lançamento do livro "Em obras: história do vazio em Belo Horizonte"Tipo
Lançamento de Produto ou LivroOrganizadores
De
13 de Agosto de 2022 10:00 AMAté
13 de Agosto de 2022 03:00 PMOnde
Livraria da RuaEndereço