-
Arquitetos: STUDIO FSJ
- Área: 166 m²
- Ano: 2021
-
Fotografias:Ziling Wang, Simin Ding
Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado na região cênica de “Ten Crossing” em Fangshan, Pequim, o projeto se encontra em uma das mais magníficas paisagens cársticas do norte da China. O local como o encontramos era um antigo curral no meio da montanha. Neste projeto, confrontando a natureza selvagem e a necessidade de abrigo do homem, tentamos transformar o mundo exterior em parte da “escavação” do volume. Esta é a nossa ideia de viver nas montanhas no norte da China.
Vistas, Vilas. As montanhas em Shidu assumem formas bastante particulares: linhas retas e bordas claras como se tivessem sido cortadas no topo, aproximando-se intensamente dos olhos. Percorrendo o Rio Juma, o corpo humano quase pode sentir o corte daquelas magníficas montanhas. No entanto, a paisagem especular aqui é esculpida não apenas pelo movimento geológico, mas também pela atividade humana. As ricas atividades da vila podem ser encontradas ao longo do rio. Historicamente, a área “Ten Crossing” possui uma produção abundante de pedra. Traços das construções em pedra ainda podem ser encontrados nas comunidades locais. O terreno foi implodido, escavado e encaixado na montanha. Seus antigos habitantes o envolveram com um alto e robusto muro de pedra, dentro do qual ficavam três casas de fazenda separadas. A casa principal nos pareceu a maior e mais impressionante, construída com pedras brutas extraídas da montanha, enquanto as duas casas laterais foram feitas com tijolos vermelhos. Juntas, elas se fecham e formam um pátio no meio: um layout arquitetônico típico do norte da China. O objetivo é duplo: internalizar a paisagem natural e fazer parte da paisagem.
Ultrapassando os Limites. Em pé no pátio somos intensamente atraídos pelas montanhas, apesar de serem cortadas pelo muro de pedra. O núcleo do projeto, então, empurra a parede externa gerando um espaço central que se abre para o vale, com impulso direcionado para as montanhas. Seu movimento para fora faz com que a ponta pareça flutuar, como se estivesse pairando diretamente sobre o vale. A nova parede assume uma materialidade mais abstrata, o concreto, que dialoga com a direção do pátio. Este material se estende para dentro formando uma plataforma, atuando como uma base leve para as casas pesadas, um contraste que não é instintivo aos olhos.
Aprimorando o Antigo. Quando confrontados com projetos de reforma nos recusamos a sobrepor o antigo com o novo, tratando o antigo como pano de fundo. Permitimos que o novo interaja com a estrutura antiga, aprimorando-a e enriquecendo-a. Pretendemos obscurecer a hierarquia entre as três casas. Elevando a altura da ala sul e “vestindo” as casas de tijolos com uma camada de pedra bruta, enriquecemos e valorizamos o antigo, dando importância às estruturas, trazendo as três casas para um todo mais equilibrado e unido. A potência do volume sólido é reforçada por aberturas embutidas. O revestimento de pedra também trouxe mais profundidade e firmeza às aberturas da fachada, destacando sua qualidade “facial”. Todas as aberturas são simplesmente ajustes ou redimensionamentos das originais, mas fornecem uma visão totalmente nova.
Tecelagem e Escavação. Agora, as três estruturas robustas estão buscando uma maneira de se ancorar na paisagem. Criamos cinco “salas ao ar livre”, cinco pátios de formas e tamanhos diferentes que crescem ao redor das casas. Eles têm fechamentos como os de cômodos arquitetônicos, mas estão expostos a climas naturais. Juntamente com os volumes recém-construídos, eles formam um limite ondulante, que “tece” todo o complexo na paisagem. Pátios e salas são vistos mais como uma série de escavações do que lugares de diferentes funções. Ao contrário dos hotéis típicos, os espaços são organizados para que tudo pareça igualmente dimensionado e não hierárquico. O “aglomerado de cômodos” oferece mais possibilidades de circulação interna, que introduzem um aspecto de estar interno, enquanto o conjunto como um todo se abre para o exterior.
Da Matéria Prima à Fachada. O projeto explora uma abordagem diferenciada em relação ao antigo, valorizando a estrutura original através de trabalhos inovadores em pedra, variando entre método construção e revestimento. Ao descobrir algumas pedreiras naturais nas proximidades, transportamos pedras recém-extraídas para o local. Com a participação de pedreiros locais, apenas três parâmetros, tamanho da pedra, tamanho do vão e padrão do vão, são pré-determinados, com o restante do trabalho concluído de acordo com a própria experiência de cada trabalhador. Em Der Bau, Kafka descreveu um abrigo conectado por cavidades e passagens onde "eu, com o corpo, cavando, crio quartos para morar". O medo e a ansiedade sobre o mundo exterior são dissolvidos neste projeto, pois o mundo exterior foi transformado em uma parte da “escavação” do volume.