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Arquitetos: João Mendes Ribeiro
- Área: 25 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:José Campos, João Mendes Ribeiro
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa no Castanheiro situa-se em Valeflor, na região da Beira Alta, num terreno rural marcado pela presença de castanheiros e carvalhos, que se estendem numa encosta orientada a Nascente-Sul, com a Serra da Marofa em fundo.
A primeira visita ao lugar revelou um castanheiro secular de grande porte que viria a constituir o mote para o desenvolvimento do projecto da casa. Sob esse castanheiro, invocando o conceito do genius loci, desenhou-se uma casa refúgio: a Casa no Castanheiro.
A intervenção procurou ser o menos intrusiva possível, mantendo o terreno original praticamente intocado e sem afectar a árvore, em torno da qual se implanta a casa, moldando-se à sua imponente morfologia e fundindo-se com a paisagem.
A construção caracteriza-se por uma estrutura leve, sobre-elevada do solo, cuja volumetria e materialidade se relacionam com o terreno da forma mais harmoniosa possível, sem afectar as raízes do castanheiro. A concepção do edifício e a escolha dos materiais atenderam a princípios de sustentabilidade e eficiência energética e de baixa emissividade carbónica, por forma a minimizar o impacto ambiental da construção.
Toda estrutura é em madeira de pinho certificada, revestida com aglomerado de partículas de madeira (OSB) e painéis de cortiça, com características térmicas e acústicas. No exterior, as fachadas, cobertura e deck são revestidas a madeira de pinho termo-modificada, pintada de negro, para se fundir na paisagem. Este material respeita as propriedades naturais da madeira e garante a sua durabilidade e estabilidade dimensional. O revestimento das paredes e tectos, bem como o mobiliário, são em contraplacado de bétula, o que confere um ambiente quente e acolhedor ao interior da casa.
A geometria perfeita de dois cubos associados (aresta de 4 metros) é quebrada e tensionada, em planta, pelo tronco da árvore e, nos alçados, pelas suas ramadas e pernas, abrindo-se totalmente para o interior da copa, amplificando a presença da paisagem.
Nos alçados rasgam-se vãos de dimensões variáveis, em estreita relação com o quadrante solar ou com os elementos da paisagem. As grandes janelas procuram fundir o espaço interior com a natureza e as pequenas aberturas, dissimuladas pelo reguado de madeira, garantem a privacidade nos espaços internos.
Numa reflexão crítica sobre o Habitar, procurou-se transformar o espaço mínimo em conforto e sustentabilidade. A organização interior da casa é pensada em função do espaço mínimo que permite minimizar a volumetria exterior e, simultaneamente, garantir uma utilização funcional e confortável dos espaços internos. A casa acomoda num único espaço, as zonas de higiene e cozinha, a zona de estar e o espaço de dormir, que pode ser desdobrado em dois com a colocação de uma cama no mezanino.
A zona de estar relaciona-se com o exterior através de um grande vão, prolongando o espaço interior para a plataforma em deck de madeira, de forma a sugerir a diluição da fronteira interior/exterior e a promover a vivência ao ar livre. Não existe, propriamente, uma sala no interior, senão um espaço de mediação entre o interior e o exterior, já que a sala se localiza no exterior, sob a copa da árvore.
A casa revela, ao longo do ano, as mudanças de estação e do tempo – é um objecto barómetro, submetido às mutações da natureza, nas suas texturas e cores, que determinam a vida do habitante. É, simultaneamente, uma extensão da natureza e do nosso corpo.
Contrariamente à imagem idílica da paisagem como quadro fixo no tempo, o projecto da Casa no Castanheiro tem em consideração o instável e o imprevisível, que procura exprimir através de uma arquitectura em estreita simbiose com a paisagem envolvente.