Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte

O que pode o vazio? Para o arquiteto Carlos M. Teixeira, um campo de estudo, trabalho e fascínio sobre o qual se debruça há mais de duas décadas. Esse olhar sensível para as possibilidades do não construído originou o livro “Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte”, cuja segunda edição, revisada e ampliada, chega às lojas este mês. Na publicação, ele propõe uma nova abordagem sobre as cidades com foco não nas construções, mas nos espaços com o potencial para se pensar outras formas de relação das pessoas com a urbe, compreendendo o espaço público como campo de transformação social e ambiental.

Lançado originalmente em 1999, o livro trazia uma nova abordagem sobre as cidades. Ligado à fotografia contemporânea, o autor começou a observar o interesse dos fotógrafos-artistas em registrar e descrever as transformações das grandes cidades - e como, por meio da fotografia, era possível também evidenciar a beleza e a multiplicidade de caminhos existentes nos vazios (cada vez mais raros) das cidades.

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O livro é um ensaio sobre Belo Horizonte focado não nas construções, mas nos vazios -- mesmo porque, como primeira cidade planejada do Brasil (foi inaugurada em 1897), ela era só vazios quando foi fundada, como explica o autor. Ao longo do volume de 384 páginas, que conta com prefácios do filósofo Jacques Leenhardt e da arquiteta Rita Velloso, Carlos M. Teixeira analisa como a força dos vazios, prevista no projeto original de Belo Horizonte, foi sendo invadida por construções de toda sorte. Os descaminhos do crescimento desconfiguraram a capital e são reflexos da forma como o urbanismo é visto e praticado no Brasil.

Além de analisar as transformações urbanas e tirar partido de seus problemas, Carlos também propõe soluções. Na parte final do livro, o arquiteto apresenta projetos que ajudariam a repensar a relação da população com a cidade, tornando o espaço comum mais democrático e integrado com o entorno e a natureza.

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A capa do livro, por exemplo, faz referência a um projeto de incorporação de uma zona de mineração de ferro que fica logo atrás da Serra do Curral -- um dos pontos de referência de Belo Horizonte --, à cidade. Por meio da criação de um parque no local, Carlos propõe reequilibrar a ausência de espaços públicos, e de vazios, da cidade. “No início deste ano, houve uma reação popular após ser aprovada uma nova mineração na Serra do Curral. Portanto, a proposta de transformar a área em um parque ganha mais relevância hoje, pois o local está mais uma vez ameaçado e, infelizmente, permanece como um vazio socialmente desativado."

“Do Cartão-postal” discute a relação entre imagem e memória das cidades. Entrelaçando história do urbanismo e da fotografia, a visão de BH é ditada pelos fotógrafos da cidade moderna, agentes culturais que buscavam fazer cartões-postais da jovem capital que, no início de sua história, era um mar de vazios urbanos.

“Urbana" e "Suburbana” descrevem o plano urbano de Aarão Reis para depois exaltar a zona suburbana de Belo Horizonte, a zona que melhor representa a cidade, que “consome coisas” e que “devorou a Zona Urbana” – para usar as considerações destruidoras-construtivas que o modernista Oswald de Andrade fez em sua profética visita a capital.

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“Liberdade, Ela é o Vazio” propõe os vazios urbanos, a improvisação, o dispêndio, as festas e os jogos como algo fundamental em uma cidade que já foi só “vazios”, passou a ser só “cheios” e que, ironicamente, poucas vezes conseguiu se expressar pelos cheios.

O último capítulo são “Projetos” que propõem soluções e curtos-circuitos na cidade. 'Serra do Curral' propõe a conversão de sua área minerada em um gigantesco parque em meio à paisagem violenta feita de curvas escalonadas de minério de ferro. 'Tumor Benigno', proposta mais radical, é uma vingança da natureza que reocupa todo o centro, fazendo da zona urbana um imenso parque municipal. E, por fim, 'Teatro dos Vazios' prega um toque de saída conclamando todos à ocupação dos poucos vazios que restam na cidade para, assim, “gerar energias positivas e negativas”.

  • ISBN

    9786587205205
  • Título

    Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte
  • Autor

    Carlos M Teixeira
  • Editor

    Silvana Romano, Abílio Guerra, Fernanda Critelli
  • Ano da Publicação

    2022
  • Encadernação

    Capa Mole
  • Idioma

    Português e Inglês

Cita: "Em Obras: História do Vazio em Belo Horizonte" 28 Set 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/989727/em-obras-historia-do-vazio-em-belo-horizonte> ISSN 0719-8906

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