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Arquitetos: M2.senos arquitectos
- Área: 549 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Ivo Tavares Studio
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Fabricantes: Banema, Geberit, ROCAE, Samagaio & Capão, Sosoares Caixilharias e Vidros, Velux
À volta ainda se sentem os campos agrícolas de outros tempos, mas esta é uma casa muito urbana. Os proprietários herdaram o terreno dos avós e nele decidiram construir a sua casa. Uma casa térrea (ou predominantemente térrea), que respondesse aos desejos da sua família. O terreno, com pouca profundidade, estende-se vagarosamente ao longo da rua, quase até desaparecer na curva. O exercício estava em acomodar a exigente área de implantação e enfrentar a escassa profundidade que impõe a rua e os vizinhos, numa proximidade nem sempre fácil de gerir, sem nunca se abdicar dos espaços exteriores.
E, assim, a casa encosta-se à empena vizinha a poente e desenvolve-se para o lado nascente, com forma regular, ocupando o terreno dentro dos máximos legais. A forma regular da casa desmaterializa-se, acompanhando o fecho do terreno, recuando progressivamente sobre a rua, até ao volume anexo (quase um ponto final), o que confere um dinamismo, acentuado pela opção dos dois pisos na zona central.
Para contrariar a proximidade à rua e aos vizinhos, todos os compartimentos afastam-se da fachada, de forma a criar “pátios” protegidos, mais intimistas, que se traduzem numa relação ambígua na dicotomia exterior-interior, reforçada pela existência das portadas. Desta forma, criam-se ecossistemas seccionados que apagam qualquer memória da vida lá fora. Aqui, a arquitectura paisagista tem um papel fundamental ao criar espaços naturais, visualmente idílicos, com as árvores e arbustos autóctones e sustentáveis, que protegem, dão sombra, aromatizam ou simplesmente melhoram os temperos da comida, na hora das refeições.
A organização interior é bastante racional. No encosto situa-se a garagem, com comunicação transversal no terreno e que permite o acesso interior através de um primeiro corpo dedicado a serviços (lavandaria e área técnica). A entrada faz-se ao centro da casa, protegida da rua através do prolongamento de muros. A zona privada dos quartos tem autonomia total dos espaços sociais. A sala e a cozinha relacionam-se entre si, embora constituam espaços independentes, com relações diferenciadas com o exterior. No piso superior surgem os programas complementares, o ginásio e o escritório, que se prolongam para as varandas.
Os interiores são frugais e destacam-se os tectos em betão e a caixilharia em alumínio, mas é, sem dúvida, a madeira de Riga que traz conforto e detalhe à vida do dia-a-dia. No exterior privilegiam-se os materiais naturais, como o granito ou a madeira nas portadas, mas são as enormes lajetas de betão e o acabamento de todas as fachadas em pasta betuminosa de cor creme que trazem um equilíbrio visual, uma presença sóbria na rua.