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Arquitetos: Trika Arquitetura
- Área: 270 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Roberta Gewehr
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Fabricantes: Elevato, Estudio Luiza Pilau, Geomatec, Laboratório da Luz, Lucente, Marmoraria Capelari e Radin, Marmoraria Faccio, Moutinho Madeiras, Móveis Reche, Turen Portas Internas
Premissas e condicionantes
As premissas propostas inicialmente pelo cliente foram de que a casa deveria ser térrea, organizada a partir de uma planta regular contendo três suítes, uma área de estudo/biblioteca e uma cozinha aberta.
O lote possui, ao fundo, uma área de proteção ambiental cujo alinhamento faz com que a área edificável tenha sua dimensão entre divisas laterais (40m) muito maior do que a profundidade (12,5m em média). Além disso, há uma pequena diferença de nível entre a cota do alinhamento predial e a cota do limite da área edificável, estando o interior do lote em cota mais baixa. Por fim, a geometria da área edificável – respeitando-se alinhamentos e recuos – aproxima-se de um trapézio retângulo cujo lado maior abre-se em direção ao norte, sugerindo uma implantação da casa abrindo-se na direção da insolação mais favorável.
Partido
O projeto se resolve através do posicionamento de dois volumes. Um deles, paralelo ao alinhamento da mata, contém as áreas íntimas da casa. O outro abriga a cozinha e está implantado paralelo ao alinhamento frontal do lote. Entre eles faz-se um vazio, que encimado por um plano de cobertura, acomoda a área social. Estas decisões buscam a organização da planta a partir de um arranjo linear, voltando os dormitórios para a mata; procuram tirar proveito da relação entre a orientação solar e a geometria do lote, possibilitando que as áreas sociais sejam o mais transparente possível; e arrematando a fachada frontal com o volume da cozinha – mais fechado e privado. O pequeno desnível ajuda a resguardar um pouco mais as áreas íntimas e oferece a oportunidade de um jardim interno incrementando a permeabilidade da casa em relação ao ambiente natural do lugar, criando um negativo que reforça o gesto compositivo do projeto.
Forma e composição
O volume que abriga as áreas íntimas da casa é mais sólido, quase plenamente opaco abrindo-se apenas para a mata e alguns rasgos na cobertura, é de tijolos cerâmicos aparentes e sofre uma extrusão para acomodar reservatório de água e lavanderia. Já o volume da cozinha é decomposto em três volumes: um que articula o vestíbulo de acesso e o lavabo, outro que é a própria fachada do edifício e organiza todas as funções da cozinha; e um terceiro, que contém lareira e churrasqueira, define o limite espacial entre cozinha e estar.
Sobre os volumes de estar e cozinha a cobertura é uma laje plana de concreto aparente em formato trapezoidal. Uma dobradura em diagonal oferece maior rigidez estrutural e os caimentos para escoamento das águas pluviais; os vértices do trapézio estão em alturas diferentes, elevando o pé-direito da área social para uma maior incidência de luz, e rebaixando-o na cozinha para garantir maior aconchego.
Resultado
O resultado é um objeto arquitetônico intenso, cuja horizontalidade conduz as decisões compositivas. Os elementos são inseridos e ajustados de modo a dialogar com o linear e com o horizontal: ora amenizam, ora contrapõem, ora reforçam. Desse jogo resultam espaços ricos em luz e visuais e o lugar ganha maior potencial de uso e contemplação. A regularidade da planta e do volume das áreas íntimas faz com que estes espaços sejam mais neutros, ali o espaço não é o protagonista, ele acolhe. Já nas áreas sociais, a geometria dos espaços compõe perspectivas, amplia percepções, sugere excepcionalidades e convida sensações. Provoca. Os materiais em estado aparente (tijolos cerâmicos, concreto, madeira e vidro) parecem combinar - de forma táctil e confortável - com os matizes e texturas do entorno. Os espaços se materializam como se feitos da mesma substância que os circunda.