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Arquitetos: ritmo arquitectos
- Área: 520 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Yeferson Bernal, Juan David Toro
Descrição enviada pela equipe de projeto. Rodeada por uma floresta de bambus nativos, a casa Milguaduas quer ser própria de seu entorno e se encaixar suavemente em um relevo descendente. Além de sua imersão na natureza, a casa busca semear expectativa com uma primeira impressão introvertida de paredes brancas e limpas, com uma cortina de bambu que permite vislumbrar o interior, uma armadilha visual para encontrar acesso.
Ao abstrair os elementos típicos da casa rural nessa paisagem cultural, os arquétipos tradicionais são reinterpretados em um contexto contemporâneo em busca da atemporalidade. Uma base profunda protege a chegada da parede branca ao solo, que é escavada por dentro para compor a biblioteca do escritório e gera assentos contemplativos que desenham o contorno da casa voltado para a vegetação. Este banco perimetral é acompanhado por um corredor tradicional contido numa esbelta grade de ferro, que repousa quase transparente diante da paisagem. Esses elementos, por sua vez, são abrigados por beirais que prolongam os telhados de duas águas, típicos em forma e material.
O projeto incorpora o princípio de organização baseado em atividades, proposto pelo arquiteto húngaro Marcel Breuer. Como resultado, a casa é dividida em dois núcleos: uma ala de descanso e uma ala de reunião. Em sua estrutura formal, a área de descanso tem uma cobertura fragmentada em três módulos, enquanto a área de reunião é abrigada sob uma cobertura de duas águas contínuas e uma cobertura habitável típica do movimento moderno. Assim, os espaços destinados ao descanso e ao encontro relacionam-se de forma intermitente através da cortina de bambu que não só configura a fachada, mas também se dobra para dentro para trazer a verticalidade da vegetação para a casa, construindo uma soleira majestosa para descer à área social e fortalecer a relação difusa entre os dois núcleos que compõem a casa.
A casa prioriza a área de encontro como um grande espaço de relações em diferentes níveis, mas sob hierarquias que carregam cada um de seus cômodos de singularidade e proporção. O túnel de bambu semeia expectativa, dá a entender o que está acontecendo abaixo e emoldura a vegetação em seu acabamento. Da estreiteza à abertura, a sala é acessada e a atenção é direcionada para a vegetação com faixas de ladrilho hidráulico que lembram sombras projetadas da floresta. A cozinha, no mesmo nível, está localizada no coração da casa e possui todas as suas faces conectadas com os espaços adjacentes. A sala de jantar coberta funciona como um espaço de transição escalonada do interior para o exterior do revestimento da casa. Ali, o terraço, parcialmente coberto pelo pórtico de bambu, é frequentado por uma fauna exótica.
A Milguaduas aproveita os recursos naturais para criar um ambiente sustentável tanto nos seus materiais como na sua disposição espacial, o que lhe permite reduzir o seu impacto ambiental e energético. A linguagem da casa seleciona cinco materiais: bambu local, parede branca, concreto vazado, metal preto soldado e barro. A partir da pureza, os materiais constroem uma tonalidade monocromática rica em texturas. A independência entre a cobertura e o revestimento, bem como o vão entre o nível habitável e a cobertura, permitem que o interior seja naturalmente ventilado e iluminado. Esse mesmo descompasso se reflete na implantação dos níveis na topografia, a partir dos quais a casa molda uma descida gradual pelos espaços e possibilita áreas de permanência ergonomicamente projetadas. A cobertura habitável funciona como um grande canal, que repousa entre os dois telhados típicos para captar a água da chuva e obter uma perspectiva de duas coberturas vazadas de telhas de barro que emolduram a vegetação. Este nível habitável e a escada escultural dobrada que leva a ela significam uma pausa moderna dos arquétipos tradicionais.