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Arquitetos: AAVP Architecture
- Área: 8 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Luc Boegly
Quando a madeira molda Paris. Uma pergunta simples, mas essencial, orienta a concepção de Tolbiac: o que é habitação? A moradia deve elevar o indivíduo à categoria de habitante do mundo, fixar um lar na cidade, conectar o ontem e o amanhã, contemplar o próximo e o distante, estruturar nossos olhares, sentir o mineral e o lenhoso, a luz e a escuridão, ser carinhoso e rígido, claro e turvo, acolhedor como um hotel e simples como um abrigo, fazer-nos grandes e pequenos ao mesmo tempo.
Um bom edifício residencial sabe acalmar a agitação metropolitana sem extingui-la, como configurar um espaço privativo e um lugar público, como ser tanto uma cabana quanto um palácio, como cultivar a boa vida e deixar crescer as ervas daninhas, como cuidar do sono e fazer o morador sonhar. Sem ignorar as dimensões funcionais da arquitetura, o Residencial Tolbiac tenta elevar o conceito de habitação para as múltiplas formas de vida, explorando a expressividade dos materiais, o potencial das áreas comuns, as aberturas para paisagem e a disposição das tipologias, bem como a relação com o lugar e sua história.
Durante muito tempo, o cruzamento da rua Tolbiac com a rua Chevaleret anunciava uma mudança na paisagem parisiense, a transição de um denso subúrbio para um universo de ferrovias, um canal industrial cortado por uma ponte metálica. O desenvolvimento do distrito do Sena Rive Gauche apagou a obra de arte e enterrou a planície ferroviária sob um solo artificial, arriscando cair em uma forma genérica de cidade que quase não expressa as particularidades do lugar. No cruzamento da cidade velha e da cidade em construção, o projeto Etoffes de Tolbiac quer fazer parte de seu local sem idealizar o passado, para evocar uma história parisiense particular, a fim de devolver uma identidade específica a uma operação habitacional de seu tempo, aberta à cidade, enquanto filtra seus incômodos e estímulos mais invasivos.
Fachada urbana. O local ocupa uma posição duplamente estratégica, na esquina de duas ruas separadas por um desnível de quase sete metros. A escadaria que une historicamente as duas ruas delimita o lote, configurado pela junção de dois terrenos. As oficinas e armazéns artesanais construídos entre os anos 1920 e 1960 são substituídos por um complexo de uso misto com 3.000 m² de espaço comercial e 5.000 m² de habitação. A distribuição das superfícies comerciais entre os primeiros pavimentos das duas ruas minimiza o impacto da atividade, configurando um embasamento à habitação que se estende no primeiro pavimento na rue du Chevaleret. Os 88 apartamentos estão divididos entre quatro blocos, três dos quais estão unidos por áreas comuns e um bloco independente no pavimento térreo. A modulação das varandas unifica as três partes do projeto, subindo do primeiro ao sexto pavimento, e do primeiro ao oitavo pavimento. A malha reconstitui o tecido contínuo da rua parisiense.
A estrutura mista de madeira e concreto. A dualidade da madeira e do concreto orienta a concepção do projeto. As qualidades mecânicas do concreto, sua resistência ao fogo e sua capacidade de atenuação acústica levaram à sua utilização na estrutura. A madeira de lariço reveste todas as superfícies, enquanto as estruturas das paredes de madeira e os montantes verticais da fachada são feitos de abeto Douglas. Os elementos visíveis de madeira adquirem uma cor escura devido a um tratamento em autoclave, evocando as fachadas dos antigos galpões industriais de Paris. As qualidades táteis do material, assim como suas qualidades visuais, são destacadas. A madeira maciça foi priorizada à madeira laminada colada para as colunas da fachada, com a intenção de realçar as qualidades do material, com um aspecto arquitetônico reminiscente de sua origem natural, eliminando produtos reconstituídos por colagem normalmente utilizados em construções de madeira. Peças em madeira laminada colada são utilizadas ocasionalmente para a criação de vigas curvadas que sustentam as áreas comuns. O metal é utilizado para os guarda corpos, com um acabamento em bronze que o integra ao todo.
Deslocamento e vazios. A distinção entre arquitetura e construção é vista com frequência nos detalhes. Um jogo sutil regula a inserção dos pilares verticais das varandas. Eles não seguem um padrão regular, deslocados lateral e verticalmente em dez centímetros em cada nível, gradualmente curvando-se para a rua. O elemento anima a fachada e aumenta a superfície das varandas com a extensão do piso. Essa grade que une os diferentes blocos ao lado da rua absorve os vazios deixados entre cada volume. Do lado do pátio, os interstícios se tornam áreas comuns, tanto terraços como praças, ligando visualmente os diferentes níveis com a adição de elementos únicos, como "ninhos", e salas suspensas compartilhadas pelos moradores. O labirinto da circulação revisita a desordem e as surpresas dos quintais nos subúrbios industriais de Paris. Dois anos de pandemia ajudam a mensurar o valor desses espaços abertos a todos os moradores, oferecendo uma alternativa à casa e permitindo que todos desfrutem das vistas da cidade. O jardim da cobertura aberto a todos se abre a 240° em um panorama que acumula várias décadas da evolução de Paris e do céu.