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Arquitetos: Rodapé Arquitetura
- Área: 2500 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Fernanda Teixeira, Isabella Russo, Pedro Levorin
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto do Nuu.Motel nasceu de uma pesquisa instigada pelo desejo de não fazer da demanda original (uma reforma simples de um motel clássico dos anos 2000) uma reforma de interiores qualquer. Longe de compreender a arquitetura de interiores como algo menor, a metodologia projetual que iniciou o escritório de arquitetura Rodapé_ parte da compreensão de que é impossível fazer arquitetura sem pesquisa, mas vai além: a arquitetura e a linguagem podem ser entrelaçadas, criando um solo fértil de pré-existência (material, tectônica, mas também linguística e imagética) - e sem alguma delas é impossível fazer coisa alguma. A partir de então surgem duas demandas principais para elaboração do projeto: compreender o lugar da palavra “motel” no imaginário-comum brasileiro, e nortear a reforma para que essa não tivesse um preço exorbitante - restrições dos clientes.
O motel no Brasil ocupa um lugar muito específico e particular. O brasileiro frequenta o motel, reconhece um de longe, tem atrelado a ele um bocado de imagens, referências, preconceitos e tesões. Crescentes e financiados durante a ditadura militar são também bastante influenciados pela estética americana dos anos 70 e 80 - e daí a origem do nome Motor+Hotel. Os motéis são importantes marcos estéticos na paisagem urbana brasileira, originalmente inseridos nos seus limites geográficos. Fazem parte dessa alegoria os grandes volumes com janelas espaçadas e pequenas, leds em fita em todas as cores acompanhando os volumes dos muros, setas indicando a entrada dentro das muralhas de concreto, logos exorbitantes (principalmente antes da lei cidade limpa), a curiosidade e os segredos que eles escondem de quem passa de carro a km/h na avenida.
Toda a estética do sexo brega esta presente ali; à mercê de quem olha pelo lado de fora, recheados para quem frequenta o lado de dentro: a cadeira erótica de couro, o vermelho, o veludo, as próteses realísticas à venda, caixas de som se provando mais eficientes no volume que ocupam do que no volume do som que emitem, o passa-prato (ou boquetas), o lençol estampado com o logo do empreendimento, o globo de luz colorida em cima da cama, o secreto.
O projeto do nuu encarou tudo isso como ponto de partida para a criação de novos imaginários comuns, ressignificando elementos e propondo novos, mas com o objetivo norteador de encarar o sexo como ação principal da apropriação dos corpos nesse espaço. E sexo esse que fosse leve, divertido, permissivo e ainda assim protegido entre quatro paredes, preservando o anonimato tão presente na origem da criação dos motéis à brasileira. Todo o estudo preliminar levou em conta justamente o que se preservava desse imaginário, o que se ressignifica e o que criaríamos de novo.
Em relação à escolha de materiais, decidimos aqueles sempre acessíveis e práticos para a limpeza, além de baratos - policarbonato, porcelanatos, pastilhas, MDFs, telhas metálicas. Não existe tinta no quarto além daquela do forro, o resto se passa pano com rapidez ou se joga baldes. Plástico, brilhante, latex - a cara do sexo protegido esta presente também na estética do quarto - que precisa se provar sempre limpo e seguro. Junto da cartela elencada dos materiais, começamos a fazer laboratórios de implementação, testes de luz, misturas de elementos inusitados; primeiro no desenho à mão, depois na escala 1:1, por fim em uma suíte teste. Como haveríamos várias unidades da mesma categoria e serem construídas, a primeira da categoria em construção permitia tentativas e erros.
O Projeto do Nuu envolve quatro categorias de suite (Nuu.céu, Nuu.breu, Nuu.espaço e Nuu.box), redesenhos de entrada e saída de carros e, por fim, a fachada, totalizando 3.500m2. Ainda estamos em fase de projeto de mais uma categoria acessível e uma ala de festas, com suítes integradas.