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Arquitetos: Tiago do Vale Arquitectos
- Área: 217 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:João Morgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Rua de São Sebastião é uma artéria singular na história urbana de Braga. O seu traçado coincide com o Decumano Máximo da cidade romana, subindo de Poente para Nascente em direção ao Fórum e constituindo o tramo final da Via XX (que ligava Astorga a Braga parcialmente por via marítima), sendo também uma chegada alternativa da Via XVI (que ligava Lisboa a Braga por terra). É portanto, uma zona de grande sensibilidade arqueológica.
À medida que a urbe medieval se moveu em direção a norte, abraçando a Sé, este território ruralizou-se, ocupado com produção agropecuária que alimentava a cidade. Finalmente, a expansão da cidade no século XX impôs uma forte transformação à rua, forçando um convívio desconfortável entre, por um lado, a sua grande sensibilidade arqueológica e a matriz eminentemente rural das construções existentes e, pelo outro, as pressões urbanísticas, os programas, a imagem e as formas de construir da cidade contemporânea.
A construção que acolhe o Alojamento de São Sebastião é uma síntese destas circunstâncias históricas e das rápidas mudanças que a rua sofreu. Encontrando-se em ruína, sobrevivendo com alguma integridade apenas um pano de fachada com rés-do-chão e primeiro piso voltados para a rua, identifica-se uma edificação de grande modéstia construtiva, com características que apontam para uma fundação de finais do século XVIII e apresentando áreas diminutas.
Reconhece-se também, através de vestígios sobreviventes no alçado e na empena meeira, um segundo piso mais tardio, com fachada em tabique e uma volumetria mais ambiciosa, que anotou uma vontade de ampliar a capacidade do edifício numa construção que acabou por não perdurar.
O programa da encomenda (um estabelecimento de hospedagem) pedia uma forte eficácia no uso da exígua área disponível e volumetria possível, num exercício de muito baixo custo, enquanto que o grande interesse arqueológico da zona implicava igualmente a adoção de técnicas construtivas minimamente invasivas. A solução apresentou-se por forma de um desenho altamente sistematizado, permitindo economias de escala através da repetição de elementos padronizados e uma maior eficiência no uso das áreas por meio da integração de todas as necessidades de cada unidade no desenho modular do seu mobiliário.
Uma grande cuba cerâmica serve simultaneamente a instalação sanitária, a kitchenette e a lavagem de roupa (embora sejam disponibilizadas máquinas comunitárias de lavagem e secagem de roupa no piso térreo). Esta cuba é parte de um aparador que apoia também a entrada das unidades, com espaços para sapatos e chaves. Esta peça integra-se num conjunto linear de mobiliário modular que resolve igualmente a kitchenette, a cama escamoteável, os arrumos e o roupeiro.
No lado oposto, a compacta instalação sanitária desenha o hall de entrada da unidade. Para alcançar a mais eficiente organização das unidades e das suas interconexões no volume propuseram-se pisos alternados entre as frentes, garantindo uma solução de circulação vertical central com o mínimo dispêndio de área. Esta solução é encimada por uma claraboia piramidal, reproduzindo uma tipologia recorrente na construção urbana portuguesa.
A fachada principal recupera os elementos sobreviventes do alçado original, propondo a reconstrução dos pisos superiores citando a memória da presença urbana da volumetria desaparecida mas procurando, também, a sua integração na rua de hoje, em escala, linguagem e cérceas dominantes. O alçado tardoz recupera o alinhamento original da construção preexistente e, embora constituindo uma edificação integralmente nova, cita também tipologias de alçado recorrentes neste contexto urbano.
Em suma, o Alojamento de São Sebastião conforma-se entre, por um lado, a máxima eficácia e, pelo outro, o respeito pela memória da presença do edifício existente e a longa e complexa história da Rua de São Sebastião.