-
Arquitetos: Lioz Arquitetura
- Área: 180 m²
- Ano: 2018
-
Fotografias:Francisco Nogueira
Descrição enviada pela equipe de projeto. Fruto da intervenção, o edifício faz parte de um conjunto de outros edifícios residenciais agrupados em torno da Praça de Touros Carlos Relvas em Setúbal, que por suas características construtivas e morfológicas foram executadas concomitantemente em 1889. Estes edifícios apresentam piso térreo mais um pavimento e cobertura em telhas cerâmicas, e acomodam-se à topografia criando desencontros no alinhamento das cérceas Originalmente o conjunto é composto por quatro frações residenciais, duas no rés do chão com acesso direto à rua e ao logradouro, e duas no primeiro piso, acessíveis pela caixa de escada central.
Na tipologia original, todos os ambientes internos, compostos por quatro quadrantes que se comunicam, são originalmente iluminados e ventilados, e abrigam salas, quarto e cozinha. Como construção tipicamente econômica da época, os vãos estruturam-se com tijolos maciços e não com pedras, marcando a identidade do conjunto. Vedos internos em tabique e paredes exteriores de tijolo e pedra. Soalhos de madeira, estruturados por barrotes na menor direção. De forma a potencializar o uso do logradouro e reforçar a vocação residencial do conjunto, a intervenção centrou-se na transformação de quatro habitações em duas. Cada uma com rés do chão, logradouro e primeiro piso. Esta alteração também buscou a adaptação da tipologia às condições contemporâneas, possibilitando a infraestrura hidráulica necessária.
Para tal, e na tentativa de manter os elementos interessantes e em bom estado, os quatro quadrantes da tipologia original foram mantidos, como áreas principais de estar: sala, cozinha e quartos. O ambiente menor permitiu a instalação da circulação vertical das duas novas casas, uma escada metálica vermelha, que por seu material e cor marcam radicalmente a ação do projeto. O eixo central que abrigava a escada original de um lance para acesso aos apartamentos do segundo piso, foi convertido no núcleo das instalações sanitárias, com pisos novos, devidamente estruturados e impermeabilizados.
Os quatro quadrantes existentes tanto no rés do chão quanto no primeiro piso, e a posição da escada metálica de conexão em um destes módulos, permitiu a fluidez entre os ambientes que se intercomunicam, e o cruzamento da ventilação e iluminação entre os pisos e os alçados. O vermelho foi escolhido de forma a evocar a Praça de Touros com suas portadas, que sabiamente dialoga com a cor do tijolo maciço. Internamente os ambientes são neutros e delicados – piso de madeira, portas e painéis brancos, cimento afagado e azulejo branco artesanal – de modo a valorizar as geometrias das fachadas e o cruzamento de aberturas e luzes que existe entre os ambientes.
O logradouro, que se desenvolve originalmente com um grande declive no trecho final do terreno, foi pensado de forma a criar 4 zonas distintas – estar, relva, tanque, jardim – com linhas transversais que alteram a proporção e escala iniciais. A intervenção acaba assim por permitir uma renovação dos modos de vida e composição familiar do próprio bairro, outrora composto por pequenas habitações com pouca infraestrutura, e grandes logradouros para plantio e criação de pequenos animais – agora mais propício à habitação de famílias maiores, com áreas de lazer próprias.