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Arquitetos: NOARQ
- Área: 947 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Duccio Malagamba
Descrição enviada pela equipe de projeto. A Casa TI tem uma história de 20 anos de abandono. A primeira licença de construção é de 2002. Passou por diversos proprietários com o objetivo de acabar e habitar a casa, mas sempre sem sucesso. Em agosto de 2018 uns amigos, apaixonaram-se pela localização e pelo potencial da casa e compraram-na. A casa encontra-se no centro de Santo Tirso numa situação privilegiada. Vizinha do Call Center dos Aires Mateus, frente ao Parque Público Matadouro, na fronteira com uma extensa e bela reserva agrícola que serve de paisagem do lado sul da cidade.
Encontramos uma casa de dois pisos com desenho de arquitetura contemporânea abandonada antes da sua conclusão. Era uma construção de betão muito sólida, bem concebida do ponto de vista dos seus espaços técnicos, mas com muitos sinais de erosão e de vandalismo. A casa ocupava 444 m2 de área no centro de um terreno com 947 m2. As áreas de jardim eram marginais e ensombradas. A casa implanta-se num terreno em declive e a escolha da sua cota de assentamento, abaixo do nível da rua, resultava num estreito perímetro de jardim maioritariamente em sombra, e por esta razão escuro e húmido.
Os alçados da casa eram demasiado rasgados e feios, em nossa opinião. As janelas e portas do alçado virado à rua, estavam unidas e perdiam definição, importância e hierarquia. Os restantes alçados possuíam uma plêiade de aberturas com dimensões e formas difíceis de justificar. Entre a rua e a casa elevava-se uma estrutura cénica construída em betão que definia o espaço de receção da casa que nos parecia supérflua – demolimos!
O interior possuía uma variabilidade de pés-direitos inspiradora. Também o espaço interior nos parecia descontrolado, mas com grande potencial. Entre as estruturas construídas em betão, apareciam estruturas suspensas em ferro que retiravam unidade ao conjunto. Nos tetos existiam lanternins quadrados em forma de pirâmides em negativo. No espaço de cozinha, com pé direito duplo, existia uma estrutura em ferro que suportava um revestimento de parede que ao mesmo tempo moldava o teto – demolimos para deixar o espaço puro. A piscina existente não tinha definição e o seu revestimento cerâmico não cabia nas nossas intenções de redução ao essencial.
Em nossa opinião, nada em arquitetura pode ser resultado do acaso ou da frivolidade formal, unicamente da vontade artística. Nada em arquitetura pode ser fruto de falta de estudo e de amadurecimento da proposta ou racionalmente injustificado. A atividade de construção é demasiado cara, demasiado comprometida com a paisagem, com a cidade, com os recursos naturais e com a economia para que possa ser um ato menos consciente, ou livre de responsabilidade social. Procuramos uma arquitetura responsável e sustentável. Eliminamos tudo o que nos parece excesso até obter o essencial. Só o essencial é necessário. A história da arquitetura ensina através das suas magníficas ruínas que só o essencial prevalece no fim da vida e que a vida pode ser devolvida à ruína a partir do essencial que resistiu ao tempo.
O orçamento era muito limitado para renovar 700 m2 de área construída. Começamos por tomar uma opção – eliminar todo o excesso. Revestir as pedras manchadas e vandalizadas do pavimento com uma argamassa à cor natural do cimento. Retocamos o estuque original das paredes. Demolimos as estruturas de teto suspenso que artificializavam o espaço. Refizemos com uma forma circular os lanternins de teto. Fechamos com paredes e lajes onde o espaço social parecia aberto e sem definição. Demolimos paredes onde o mesmo espaço parecia fragmentado e sem sentido. Recortamos a escada para que a sua forma se apresentasse alinhada com a definição de espaço conferido pelas paredes.
Recortamos novas portas e fechamos outras. Os vazios são fechados com madeira. A arquitetura do espaço deveria resultar como uma escavação esculpida na massa branca de paredes e tetos e os seus vazios pechados com superfícies de madeira aparente. Nenhum brilho. Os materiais naturais na sua verdadeira aparência.
Sobre as fachadas tomamos uma decisão, se possível apenas um vão em cada alçado. Um vão de vidro que, desde o interior, representasse um vazio, uma fotografia do exterior sem moldura ou divisões. A iluminação foi dissimulada na forma arquitetura, ou quando desejável revela-se como sempre se fez na história da arquitetura num objeto de iluminação, como por exemplo sobre a mesa de jantar. O aquecimento e arrefecimento é feito por radiação a partir do pavimento.