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Arquitetos: COM/O atelier
- Ano: 2022
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Fotografias:Daniel Malhão
Descrição enviada pela equipe de projeto. Inserida no cemitério do Alto de São João em Lisboa, a CASA DO PESSOAL, alberga desde há várias décadas os balneários dos trabalhadores do crematório e uma oficina destinada à manutenção de pequenos elementos do cemitério. O edifício existente encontrava-se em muito mau estado de conservação e os espaços não apresentavam as melhores condições para os seus utilizadores. O principal desafio seria desenhar um edifício para pessoas “vivas” que trabalham e lidam com a morte todos os dias. Procurou-se evocar a atmosfera dos espaços de banho e tirar partido da vista sobre o rio Tejo de modo a conceber um lugar que fosse um refúgio para os duros dias de trabalho em contacto com a morte. A Casa do Pessoal é portanto um edifício para a vida em contacto com a morte.
Optou-se por manter e reforçar a clareza do ritmo da estrutura do edifício, uma métrica regular pontuada pelos vãos nas fachadas exteriores, tirando partido dela para a definição e distribuição dos espaços no interior do edifício. Neste sentido, as fachadas e a métrica estrutural existentes são mantidos e o interior e a cobertura alterados. As áreas respeitantes a serviços e às antecâmaras de entrada no edifício localizam-se em duas faixas junto às fachadas principais em ambos os topos do edifício, e é ao centro que se organizam os restantes espaços interiores. Passaram-se os balneários e a área de serviço do pessoal, outrora localizados no piso 0, semienterrado e com escassas condições de salubridade, para o piso 1, com acesso pela rua localizada à cota mais alta, e do espaço da oficina e armazém, que se encontravam no Piso 1, para o Piso 0, com acesso pela rua à cota mais baixa. Acrescentou-se ainda um terceiro piso ao nível da cobertura que contém uma copa e uma zona comum que se prolonga para o exterior através de um terraço que abraça o espaço interior e de onde se avista a encosta da colina de Lisboa até ao rio Tejo. Os balneários masculino e feminino são desenhados e organizados segundo uma “caixa” rectangular afastada das fachadas laterais existentes de modo a permitir a circulação no seu entorno. Esta caixa é transposta para a configuração do novo volume na cobertura.
Optou-se por revestir a azulejo a nova intervenção quer no interior quer na cobertura do edifício distinguindo-a do existente. Os vãos interiores comportam vidros translúcidos, aludindo à atmosfera proporcionada pelo vapor que caracteriza os espaços de banho. Os restantes panos de vidro são transparentes permitindo o contacto com o exterior e a entrada de luz natural no interior do edifício. De modo a assinalar a ligação vertical entre todos os pisos, localizou-se uma claraboia no ponto de contacto entre o balneário feminino e masculino que atravessa todo o edifício. O vidro que a fecha na cobertura é percorrível e na cor azul, assinalando a memória dos vitrais que existem na maioria dos jazigos do cemitério.