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Arquitetos: Canoa Arquitetura
- Área: 90 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Manuel Sá
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Fabricantes: Cristiane Rodrigues Pedras Decorativas, Deca, Edymax Marcenaria, Fernando Jaeger, InterLight, Marilena G., RDS Esquadrias, Suvinil, Tramontina
Descrição enviada pela equipe de projeto. Em fevereiro de 2021 a galeria de arte A Gentil Carioca decidiu expandir seu espaço expositivo para além do renomado casarão histórico na região do Saara no Rio de Janeiro, levando suas obras de arte também para a capital Paulista.
Para isso, escolheu um imóvel situado em uma simpática vila composta por residências e comércio de abrangência local, próxima ao cemitério da Consolação. A relação franca do espaço térreo com a via pública, assim como a vitalidade despretensiosa da vizinhança foram de encontro à tradição irreverente e festiva da galeria.
Por se tratar de um imóvel alugado, situado num conjunto arquitetônico tombado pelo Conpresp, Canoa Arquitetura teve como desafio propor uma intervenção de custo controlado, focada principalmente nas áreas internas. O imóvel abrigara uma agência de comunicação e se caracterizava pela intensa compartimentação em ambientes de pequenas dimensões, pouco iluminados devido à inexistência de recuos laterais e à ocupação parcial do pátio central, que cedera lugar a um sanitário e uma copa. Como agravante, o sistema construtivo da edificação de dois pavimentos baseava-se na alvenaria de tijolos cerâmicos maciços portantes, o que conferia função estrutural à maioria das divisórias.
A abordagem do projeto se deu por duas vias principais. A demolição significativa de paredes internas aliada ao uso de reforços em perfis ‘I’ de aço permitiu a criação de espaços expositivos mais amplos e flexíveis. De modo a evitar concentração de cargas e a consequente necessidade de se executar novas fundações, optou-se por preservar trechos estrategicamente posicionados de alvenarias, restringindo os vãos abertos e transferindo as cargas das vigas metálicas de reforço para as paredes existentes. Estes segmentos remanescentes de parede escancararam as demolições realizadas, expondo topos irregulares de tijolo aparente, e instigam o visitante a apreender a estrutura da casa e sua história.
Ainda, a desobstrução do pátio, de forma a restituir sua configuração original, foi operação determinante. Além de melhorar as condições de iluminação e ventilação naturais, oferece a oportunidade de extensão do espaço expositivo. As soluções de projeto reforçam essa concepção.
Os fechamentos de vidro temperado transparente com abertura tipo sanfona garantem a continuidade visual entre dentro e fora e permitem abrir integralmente as quatro passagens do interior para o exterior. Os vidros dispensam requadros e seu custo mostrou-se bastante acessível por ser um modelo de esquadria muito usado no fechamento de varandas residenciais
O piso de microcimento cor terracota remete à matéria vital terra. Sua cor foi criteriosamente escolhida para que estabelecesse uma relação de continuidade com o seixo de arenito rosa que permeia o pátio externo. A escolha do microcimento se deve à rapidez e à economia com que o piso pode ser executado, sem a necessidade de sequer demolir os pisos pré-existentes.
Na divisa nordeste, junto da escada de acesso ao vizinho superior, foram posicionados um depósito e um trainel composto por quatro folhas de correr com largura de 3,00m e 2,45m de altura. Tal equipamento aumentou significativamente a capacidade de armazenamento e apresentação de obras de arte.
Já os programas de apoio à galeria, como sanitário, copa, biblioteca e apoio administrativo foram acomodados numa faixa de aproximadamente 1,20m junto à parede do fundo do imóvel. A mesa de trabalho da equipe foi tratada como um elemento móvel, que poderia se deslocar pela galeria em função de cada projeto expográfico.
O projeto luminotécnico teve como premissa a simplicidade: três linhas longitudinais de perfilados correm paralelamente e se conectam por meio de eletrodutos aparentes fixados sob a laje do teto. Sob o perfilado foram dispostas lâmpadas fluorescentes tubulares e alguns refletores direcionáveis, que podem ser facilmente reposicionados em função de cada projeto expográfico. Na área externa, o destaque do projeto paisagístico se deu no plantio de um cupuaçuzeiro, árvore nativa e bem adaptada às condições de insolação do local.